quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Episódio 02: Reaper

Minha primeira reação foi gritar. Depois, saí aos pulos pela casa tentando fazer alguém me notar, e nada funcionava. Voltei para minha cama e comecei a refletir sobre o que aconteceu hoje. Quando eu morri? Para falar a verdade, meu dia foi ótimo. Mas não me lembro disso ter acontecido. Espera um pouco – penso –, isto deve ter alguma reação com aquele vulto que eu vi hoje de manhã.
Antes que eu pudesse pensar em mais alguma coisa, vi que minha mãe e minha avó entraram no carro em direção ao hospital. Pego o meu MP4 e minha mochila – para falar a verdade, não sei por que eu peguei-a. – e me dirijo a pé até o hospital. Não é muito longe e eu conheço um atalho.
[...]

Chego ao hospital e só vejo cinco rostos conhecidos. Minha mãe, minha avó, Ed, Zoe e... Chloe. Chloe! Chloe está aqui!
Recupero-me da animação ao perceber que ela não pode me ver ou me ouvir. Sento na sala de espera como todos os outros, mas estranho o fato de não atravessá-la, afinal, eu sou um fantasma, não sou? Será mesmo que eu sou um fantasma? Não sei responder isto agora. Olho para o corredor e vejo um médico aproximar-se de onde minha família e amigos estão e chego mais perto para ouvir.
— Senhorita Davenport, quando o garoto nos foi trazido para cá, ele havia tido uma parada cardiorrespiratória. Fizemos tudo que estava ao nosso alcance, mas ele teve de ser colocado em coma induzido. Se não apresentar melhorias num quadro de 48 horas, sinto que não haja mais nada a fazer.
— Entendo. – Diz a minha mãe.
— Por que você não leva os meninos para sua casa para esfriarem um pouco a cabeça? Qualquer coisa, eu ligo.
— Tudo bem, Doutor...
— Morthy.
— Doutor Morthy.
Vejo meus amigos irem embora com minha mãe e minha avó.  Começo a transitar pelo hospital para procurar o “meu quarto”, esbarro numa enfermeira com tanta força que meu ombro chegou a doer. Ela deve ter alguma prótese, não sei, mas ela não sentiu absolutamente nada. Entro em um quarto onde está escrito C.D., que acredito ser Chase Davenport. Engano-me ao perceber que significavaCleaningDepartament, - Departamento de Limpeza –. Que mancada.
Finalmente entro no quarto certo, depois de alguns minutos exaustivos de busca. É medonho olhar para si mesmo neste estado deplorável. Estou deitado numa cama mal cuidada – há ferrugens em algumas partes dela – com um aparelho para auxiliar minha respiração preso ao meu nariz. Há alguns fios conectados às minhas veias, para injetar um soro especial. O Doutor Morthy entra no quarto e tira os fios das minhas veias. As agulhas são enormes e bastantes afiadas. Sinto a articulação no meu braço doer, e quando a olho vejo apenas um buraco no local, e ele está crescendo. Eu estou me desintegrando.
— Eu tenho uma oferta para lhe fazer, Chase.
Não respondo, sei que não é comigo.
— Eu sei que você está aqui. Posso vê-lo. Assim como posso ver este buraco crescendo pelo seu corpo. Sabe, quando as pessoas entram nesse estado, têm a oportunidade de viver ou morrer.
— Você pode me ver? – Pergunto. Assustado.
— E te ouvir. – Ele responde. – Sabe, o meu nome na verdade é um trocadilho. Meu verdadeiro nome é Morte. E eu tenho uma oferta a lhe oferecer.
Aquilo pareceu absurdo para mim. Um médico falando com um adolescente que está se desintegrando enquanto olha para seu corpo em coma. Ainda mais absurdo que o médico chame a si mesmo de morte. Esta cidade realmente está de cabeça para baixo, deve ser apenas mais um dos meus sonhos malucos que eu sempre tenho. Mas, como não tenho mais nada a perder, sinto que devo perguntar.
— Que oferta?

— Eu quero que você se torne um ceifeiro.

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