segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Episódio 1: Reaper




Hoje é somente mais um dia normal na escola. Os valentões de sempre tirando sarro de mim e me espancando, as patricinhas do colégio me chamando de perdedor, os professores sentindo desprezo de mim por eu ter notas mais altas. Vocês provavelmente já me odeiam só pelo fato de eu ser nerd. Mas vamos com uma coisa de cada vez.
Levanto-me da cama sempre mais cedo do que o horário que eu tenho que acordar, isso me dá alguns minutos de paz no colégio. Tomo banho para despertar realmente e saio de casa sem tomar café. Tentei evitar contato com minha mãe.
Os meus pais são separados. Bom, minha mãe recentemente se tornou professora e isso a tem estressado muito, como só moramos nós dois, ela quase sempre desconta todo o seu estresse em mim. Meu pai mora em outro país, se tornou um homem bem-sucedido, mas prefere evitar a nossa existência. Essas duas últimas semanas têm sido piores do que o normal para mim. Devido à minha solidão, eu sempre fui apegado a duas coisas – Um broche em formato de foice que me fora dado quando eu era criança, e meu gato, Sleepy. – primeiro, minha mãe deu um jeito de sumir com o broche que eu tenho desde a minha vida toda – não sei ao certo porque – e depois, Sleepy morreu.
Fora isso, eu só tinha dois amigos no colégio. Zoe e Ed. Mas Ed se mudou e Zoe está faltando escola desde que a mãe faleceu. Eu a entendo. As duas únicas coisas que me impediram de cometer suicídio nesta última semana, foram minha avó, que está aqui desde segunda – hoje é sexta, graças a Deus – e a pessoa a quem eu mais amo, Chloe.
Chloe não é tão popular no colégio, ela é mais ou menos excluída, assim como eu. Mas o problema com ela é que ela é a fiel seguidora da pessoa mais insuportável que o mundo pode ter. A patricinha irritante do colégio, Jade. Jade, a garota que faz da minha vida um inferno desde o jardim da infância.
Abro o meu armário e coloco meus livros lá dentro. Pego o meu iPad e vou para os fundos do colégio, onde eu posso ficar em paz até as aulas começarem. Vejo um vulto negro enquanto me dirijo até lá e dou meia-volta – Tem isso também, sou muito medroso –. Então, ponho o meu iPad de volta no armário e vou para a sala de aula.
Sento em minha carteira e ponho o fone de ouvido. Antes de tocar alguma música, percebo que o ônibus chegou pelos piados irritantes que ele faz. Eu venho a pé para o colégio, por isso chego antes de todos. São mais ou menos 1km de distância da minha casa até lá, mas já é um começo. Seleciono uma música do Nirvana e fico na minha até o professor chegar, onde sou obrigado a guardar o meu MP4.
Minha estratégia este ano é passar fora do radar, e até então, eu não tinha conseguido. Eu estava em minha carteira olhando para as explicações do professor Joseph, quando vi Zoe entrar na sala, arregalei os olhos, mas não movi um músculo. Apenas voltei a olhar para o quadro negro e percebi Zoe sentar-se atrás de mim. Viro-me para falar com ela.
— Zoe, você está bem?
— Zoe?
— Zoe!
Este último chamado foi mais alto, suficiente para percorrer a sala de aula inteira, mas ninguém pareceu notar nada. Acho tudo estranho e, contrariando a minha mente, tento mais uma vez chamar a atenção de alguém, minhas palavras já estavam saindo quando Jade falou.
— Professor, eu posso ir ao banheiro?
— Pode. Mas é para ir ao banheiro, não para ficar perambulando pelos corredores. – Ele responde.
— Eu vou à sala da direção – Falo, mas ninguém demonstra reação ou fez cara de quem se importa, nem mesmo o professor. Saio da sala no rastro de Jade.
Jade contrariou o professor e foi direto à sala do terceiro ano, ficar com o seu “namorado”. Utilizo aspas porque ela namora ao mesmo tempo com três caras. Um pela manhã, um pela tarde e um pela noite. Típica vadia de colegial.
Dirijo-me à sala da Diretora Clavert, a porta está aberta, mas ainda assim, faço questão de dar três batidas. Ela também parece me ignorar e não responde aos meus chamados. O dia hoje está sendo tão estranho que não consigo defini-lo como um dia legal ou um dia ruim.
Na volta, a porta da sala está aberta. Entro e volto ao meu lugar de sempre. O professor Joseph está fazendo a chamada e chego a tempo de responder.
— Chase Davenport.
— Presente!
— Ausente! – Diz Zoe.
— O quê?! Eu estou aqui! – Respondo, bravo.
O professor não parece ter me visto e agora, tenho certeza de que o meu dia está uma droga. Nem me darei ao trabalho de pegar meu ônibus de volta, vou voltar para casa a pé mesmo.
Chego em casa e, como de costume, limpo meus pés no tapete de entrada para que minha mãe não arrume mais um motivo para me criticar. Deito na cama e o telefone de casa toca. Minha avó vai atender e deixa o aparelho cair de susto. Minha mãe entra em casa e vai direto falar com ela.
— O que houve? – Minha mãe pergunta.
— Acharam um corpo nos fundos de um colégio.
Meu coração gela.
— Corpo? De quem?
Levanto-me da cama e olho o espelho do guarda-roupa. Não vejo o meu reflexo.
— Do Chase.

Descobri porque todos me evitavam. Estou morto.

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