segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Episódio 4: Reaper

Encontro-me numa espécie de templo. Estou a tantos metros de altura que o ar já é rarefeito. Está muito frio e eu estou pelado. Não sei o que aconteceu desde que fechei os olhos no hospital, mas não pode ter sido boa coisa. Começo a andar pela neve com meu pé congelando por dentro.
Depois de subir alguns significativos metros, vejo uma barraquinha onde tem um casaco de pele. Não sou desses de usar isso, mas se eu ficar neste frio por mais um minuto, eu vou, literalmente, congelar. Aproximo-me mais e para a minha vergonha, a dona da barraca é uma velhinha. Meio sem jeito, começo a falar com ela.
— Com licença, senhora? – Pergunto.
A mulher me ignora e joga dois trapos para mim. Uma cueca e uma touca. Ponho os dois e ela me dá uma sacola. Ela está falando uma língua que eu deduzo ser chinês. Por mais nerd que eu seja, eu jamais entenderei isso. Abro a sacola que ela me deu e encontro uma corda, uma faca, uma estrela chinesa, um esquilo morto e uma caixa de fósforos. Por que diabos essa mulher me daria essas coisas?

[...]

Depois de uma longa caminhada, encontro uma árvore enorme com um espaço muito grande na parte baixa de seu tronco, que será suficiente para me aquecer por algum tempo. Estou quase chegando até ela quando escuto um ruído. Olho para trás e não vejo nenhuma criatura. Olho de volta para frente e uma figura preta se pôs perante a mim. Seria um dementador? Não. Não estou em Harry Potter.
Lembro-me da faca e puxo-a devagar de dentro da sacola – que eu dei um jeito de amarrarnas costas, mas não me lembro como – e faço um movimento de corte de garganta que aprendi jogando GTA. A faca atravessa o pescoço da criatura e percebo que é uma espécie de gás que a forma. Mas não é um gás comum. É parecido com... Gás de cozinha!
Atiro a faca a uns dez metros desviando a atenção da criatura negra. Pego a caixa de fósforos da minha sacola e consigo, surpreendentemente, acender um. A criatura, literalmente, explode, me jogando para dentro daquela árvore.
Depois de um longo tempo sem conseguir me mexer, percebo que não estou sentindo meus pés. A roupa que a criatura usava sob sua forma gasosa ainda está em chamas. Olho para trás e vejo um toco de madeira. Minha sacola está do lado de fora.
Arrasto-me para fora da árvore até conseguir pegar a sacola, retorno, com dificuldade e tiro a corda de lá. Ponho minha toca no meu pé esquerdo que já está tão inchado que na América, eu seria considerado o pé grande. Saio da arvore com a sacola vazia para pegar galhos e a minha faca. Encontro uns galhos e os coloco na sacola. Ando mais um pouco e recupero a minha faca. No caminho de volta, percebo que há um cervo ao lado da árvore.
Não me mexo. Eu quero comer aquele cervo, mas se eu matá-lo agora, o fogo da criatura negra apagará e eu não poderei preparar meu jantar. Volto para a árvore e abrigo o cervo comigo. Tem espaço suficiente para os dois.
Despejo os galhos no chão de modo que consigo fazer um equilátero. Pego o tronco amarrado na corda e lanço-o até o fogo da criatura. Espero até que o tronco fique avermelhado que é sinal de que ele já está pronto para virar brasa. Puxo a corda de uma vez só e o tronco cai dentro da árvore, longe da neve. Percebo que fiz besteira e desmancho meu equilátero. Tiro a touca do meu pé e ponho no chão. Desamarro o tronco e o coloco em cima da minha touca. Ponho os outros galhos em forma de qüilátero em cima do tronco e assopro devagar. Consegui fazer uma fogueira.
O cervo dormiu. Olho as coisas que aquela senhora me deu. Encontro o esquilo. Com a ajuda da faca, tiro a pele do esquilo deixando só os músculos dele à mostra. Ponho o esquilo na minha faca e fico girando-o à beira da fogueira. Terei um jantar hoje.
Depois de jantar o esquilo – que por sinal estava até bom – deito-me no canto da árvore oposto ao do cervo. Ouço um barulho do lado de fora.
Tem alguém aqui.
— Quem está aí?!
Uma estrela chinesa diferente da minha acerta acima da cabeça do cervo, acordando-o. Uma garota loira, mais ou menos a minha idade, posiciona-se na entrada da árvore.

— Prazer em conhecê-lo, ceifeiro.

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