sexta-feira, 7 de novembro de 2014

Episódio 6: Reaper

Olho em volta do meu quarto de hospital. Há apenas uma bolsa preta – a minha mochila do treinamento – em cima de uma cadeira no canto do quarto. Não há ninguém aqui. Levanto-me e percebo que estou diferente. Sinto-me mais forte – sei que é ilusão, mas a sensação foi boa –. Abro a mochila e encontro a corda que a velhinha me deu e os lanches que eu “fiz” com o cajado de Luna. Dentro da mochila ainda há uma chave e um objeto de pouco mais de trinta centímetros. Tiro esse objeto da minha mochila. O objeto transforma-se.
É o cajado de Luna.
Lembro-me do broche de foice que eu tinha. O broche aparece no meu bolso esquerdo. Bolso?Ponho a mochila nas costas e procuro um espelho. Estou com uma roupa preta e um casaco preto sobre ela. Alguém abre a porta. É Morte.
— Parabéns. Você completou o seu treinamento.
— Como assim completei?
— Você sobreviveu por doze horas numa selva sem nada além de dois trapos e uma mochila com alguns itens. Claramente fez bom uso deles e por isso ainda está aqui. Diga-me, como você conseguiu vencer o sugador de almas?
— O dementador?
— É, acho que é isso. Como você o venceu?
— Eu percebi que a estrutura dele consistia em gás de cozinha, uma fagulha ao seu lado e tudo explodiria. Não é preciso ser um gênio para descobrir isso.
— Entendo. Pode pegar a caneta na sua mochila, por favor?
— Certo.
Pego a caneta no bolso da mochila e a entrego a Morte. Ele aperta o botão fazendo-a funcionar. A caneta paira sobre o ar irradiando uma luz holográfica azulada. Essa luz forma uma espécie de tela de computador digital e, nesta tela, estão gravados todos os meus dados e vejo uma foto minha com Zoe e Ed no canto da tela. Lembro imediatamente do que Luna me disse.
Você ainda não foi corrompido. Ainda pode ver o lado verdadeiro da coisa. Ainda pode ser um dos meus.
Morte começa a mexer nessa tal tela e eu penso que tudo o que eu mais queria era que Luna estivesse ali. Espero que a mágica do cajado comece a funcionar, mas nada acontece. Morte termina de mexer na tela holográfica e eu vejo um rosto conhecido.
É o prefeito da cidade.
— Este será o seu primeiro alvo, ceifeiro.
— O prefeito Hayes?
— Exato. Em algumas horas, ele sofrerá um acidente de carro e ficará entre a vida e a morte. O que quer dizer que ao mesmo tempo em que você tentará fazê-lo morrer, haverá outra criatura tentando impedir que isso aconteça. Nem sempre os ceifeiros vencem, quando não vencem, os humanos costumam chamar o acontecido de Milagre de Deus.
— Por que eu não vejo mais ninguém?
— Você quer dizer por que você não vê ninguém além de mim?
— Isso.
— Você não está na terra. Quer dizer, fisicamente você está, mas espiritualmente não. Sua energia está no submundo, que é onde todas as criaturas místicas estão. De vampiros a ceifeiros. Mas ao mesmo tempo em que você está aqui no submundo, seu corpo físico encontra-se no mundo terráqueo, agindo normalmente.
— Como isso é possível?
— Eu sugiro que você procure uma biblioteca espiritual para responder isso. Eu não tenho o dia todo com você. Se vire.
Morte sai pela porta e desaparece. Caminho pelos corredores vazios do hospital até chegar à saída. Está nevando e eu vejo uma coisa no estacionamento do outro lado da rua. Minha moto de neve.

[...]

É estranho entrar em casa e não dar de cara com os berros da minha mãe e minha avó perguntando como foi a minha aula. Entro no meu quarto e ele parece exatamente o mesmo. Tirando o fato que agora está todo branco, todas as minhas roupas trocadas por uniformes de ceifeiros, uma televisão maior que não funciona – pelo menos eu acho que não – e um computador que, aparentemente, serve para que eu guarde os dados de minhas vítimas.
Abro a porta que dá acesso ao quintal de casa e vejo uma criaturinha peluda no pé da porta.

Sleepy.

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