sexta-feira, 7 de novembro de 2014

Ironia do Destino: Capítulo 3


NOVELA DE RENNAN LOPES

APARTAMENTO DE NANDINHA à CORREDOR DA PORTA à NOITE (18h:15min)
DANTE: Eu não posso mais ficar fingindo que eu gosto da “nova pobretona”. Então vou ter que fugir e, se você quiser se dar bem, tem que ir comigo!
            NANDINHA: É pra já! Deixa eu só arrumar a mala.
            DANTE: Vai rápido! É hoje que aquela Karina pira de vez. Hehe!
            AEROPORTO à SAGUÃO à NOITE (18h:26min)
Dante e Nandinha entram num voo para Dubai.
            NANDINHA: Como foi que você pagou o voo, Dante?
            DANTE: Você acha que eu não peguei minha parte da grana do velho?
            A namorada do mau-caráter retribui o sorriso, com um olhar maléfico.
            O avião decola.
            MANSÃO NARVALLI à SALA à NOITE (18h:31min)
Karina se desespera porque Dante nunca voltou.
            KARINA: Meu Deus, cadê o Dan-Dan? (anda de um lado para o outro) Eu já tô fazendo calos nos meus lindos dedinhos de tanto andar. Calma, Karina! Respira, inspira... Ai, não adianta, eu não consigo me acalmar. Cadê você Dante?
            Close na lágrima saindo dos olhos de Karina. Quando a câmera dá um close no rosto de Karina, ela já está adulta, e agora ela não está mais na mansão, e sim numa estrada de terra.
            ESTRADA à MANHÃ (11h:24min)
(Instrumental: Songbird – Kenny G) Em 2014, Karina, já adulta, perambula por uma estrada de terra, com várias maletas nas mãos e a cadela Maria Adelaide Amaral, que ganhou de Juliette, debaixo do braço. De repente, ela vê um senhor idêntico a seu falecido avô, Augustus. O homem é o fazendeiro Lourival.
            KARINA: Vovô?
Karina corre em direção ao homem e o abraça.
            LOURIVAL: Que é isso, dona? Tá broca?
            KARINA: Como assim, vovô? Que linguajar é esse? Tá parecendo aqueles caipiras...
            LOURIVAL: Que negócio é esse de “vovô”? Eu num sou teu vô não, viu, minha fia? Nunca te vi mais gorda, nem mais magra. E o meu jeito de falar sempre foi ansim. Óia, ocê é uma daquelas pessoa que foge dos hospital pra doido?
            KARINA: Tá me chamando de louca, é?
            LOURIVAL: Digamo que sim. Mais me diz: quem é ocê?
            KARINA: Meu nome é Karina. Karina Narvalli! Agora vamos parar com essa brincadeira que já tá ficando chata, vô. Mas pera aí, você tinha morrido, não é?
            LOURIVAL: Pelo amor de Jesus Cristo, eu num sou teu vô, agonia! E que história é essa di qui eu bati as bota? Tô aqui, vivin da silva!
            KARINA: Então, se você não é meu avô, quem é você?
            LOURIVAL: Prazê, Lourival!
            KARINA: Nossa, Lourival. Você é parecidérrimo com o meu avô que faleceu 5 anos atrás.
            LOURIVAL: Teu avô divia ser um daqueles galã de novela pra se parecer comigo.
            KARINA: É, meu avô era lindo. Ele que cuidou de mim desde que eu perdi meus pais num incêndio...
            LOURIVAL: Meus pêsame, Karina! Mais o que uma moça da cidade grande tá fazendo por aqui pelos interior?
            KARINA: É que eu gastei toda a herança que meu avô deixou. Aí, eu não pude pagar as contas, a hipoteca da casa. Aí, o banco tomou a casa de mim. Meu marido, que tava com uma parte da herança, fugiu e nunca mais voltou. Só me sobrou minha cadelinha, a Maria Adelaide Amaral, que tá aqui. Agora eu estou procurando um lugar pra morar. Você sabe de algum hotel por aqui?
            LOURIVAL (rindo): Hoter? Por aqui? Minha fia, por aqui num tem nem hospitar, que é o que nois percisa, quanto mais hoter...
            KARINA: Minha nossa senhora do sapatinho de cristal!
            LOURIVAL: Mais se ocê quisé, eu posso te dar um empreguin lá pela minha fazenda.
            KARINA: Que tipo de emprego?
LOURIVAL: É... cuidadora de porco.
            KARINA: O quê?
CASA DE LOURIVAL à SALA à MANHÃ (11h:30min)
Lourival apresenta Karina para sua mulher, Rosidalva.
            ROSIDALVA: Oi, minha fia! Tudo bão cocê? Qué um cafezin, qué?
            KARINA: Não, obrigado.
            ROSIDALVA: É essa que vai ser a cuidadora de porco, Lourico?
            LOURIVAL: É ela mermo!
            KARINA: Mas não tem outro emprego, como cuidadora de cavalos, por exemplo? Eles são mais limpos!
            LOURIVAL: Não, pra isso já tem o nosso fi, o Zaqueu. Falando nele, óia ele aí!
            Zaqueu chega e olha para Karina. Os dois sorriem.
ZAQUEU: Dia!
Karina, que não entende, apenas assente com a cabeça.
ZAQUEU: Quar é sua graça?
KARINA: Gosto de fazer caretas.
ROSIDALVA: Ele tá querendo saber seu nome, moça!
KARINA: Ah, desculpa! Meu nome é Karina. Karina Narvalli, muito prazer! Você é Zaqueu, né?
ZAQUEU: A seu dispor. (vira para Rosidalva) Mãe, eu vim buscá a escova pra escová o pelo do Ventania; tá arrupiado que só!
ROSIDALVA: Tá aqui, meu fi (entrega a escova).
Zaqueu quase sai de casa para voltar a cuidar dos cavalos, mas é interrompido pelo pai, Lourival.
LOURIVAL: Fio! Pru que ocê num leva a dona Karina pra conhecer a fazenda. Agora ela vai trabaiá aqui, cuidando dos porco.
ZAQUEU: Eita, muié corajosa! Cuidá dos porco num é pra quarquer um não!
KARINA: E então, podemos ir?
ZAQUEU: Bora, só se for agora!
Os dois saem da casa.
DUBAI (HOTEL BURJ KHALIFA) à SUÍTE à NOITE (18h:36min)
Nandinha, já adulta, assim como Dante, toma banho na banheira do hotel Burj Khalifa.
NANDINHA: Ai, que ostentação!! Queria esfregar tudo isso aqui na cara da vadia daquela Karina. Ainda vou me vingar do que o avô dela me fez!!!
DANTE: Vai vingar o que, Nandinha?
NANDINHA: Ahn? Não, nada não... É que eu... eu tava lembrando daquela novela, Avenida Brasil, sabe? Que a Nina queria se vingar da Carminha.
DANTE: Ah, tá. Gostava dessa novela! Mas e aí, tá gostando de passar todos esses anos aqui em Dubai?
NANDINHA: Se eu tô gostando? Se eu tô gostando, Dante? Eu tô amando!
DANTE: Hehe, que bom. Eu também tô gostando bastante. Só que eu gosto mais de você, gostosa!
NANDINHA: Ih, já percebi. Você quer uma noite daquelas né? Que tal na banheira mesmo?
DANTE: Em qualquer lugar, linda! Só sei que eu quero você todinha pra mim essa noite!
NANDINHA: Vem!
Dante tira a roupa e mergulha na banheira. Dante e Nandinha fazem amor dentro da banheira.
FAZENDA DE LOURIVAL à CAMPO à MANHÃ (11h:37min)
(Música: Zen – Anitta) Karina e Zaqueu passeiam de cavalo pelos campos verdejantes da fazenda de Lourival. Quando o cavalo para em uma clareira, os dois descem para beber a água do riacho limpo.
KARINA: Nossa!
ZAQUEU: Que foi?
KARINA: É que onde eu moro... onde eu morava não tinha nenhum riacho limpo desse jeito, só poluição!
ZAQUEU: Eita, devia sê danado de ruim num tê um lugar pra se refrescar, só aqueles bicho, como é o nome? Aqueles tar de “chovêro”.
KARINA: É... era ruim mesmo. Bom, eu adorei andar à cavalo com você, e também adorei conhecer o Ventania.
ZAQUEU: Ara, então que bão, né mermo?
Karina dá um beijo no rosto de Zaqueu, que fica envergonhado.
ESCOLA DE MÁRCIO à FRENTE à MEIO-DIA
(Música: Meus Primeiros Erros – Capital Inicial) Márcio, o filho de Sabrina e Miguelito, agora com jovem, sai da escola e vê uma multidão formada em um beco perto de sua escola. Lá está Suíno, um homem que está distribuindo pacotinhos com uma substância de cor esverdeada. O rapaz se aproxima e vê alguns amigos lá.
MÁRCIO: Que é isso aí, cara?
AMIGO: Será que ainda não deu pra perceber? É maconha, “véi”.
MÁRCIO: Maconha? Você tá se envolvendo com drogas?
AMIGO: Cara, não liga pra o que dizem por aí. Isso aqui é “mó” legal. Cê nem sente, só sente a maresia. Dá só uma tragadinha!
MÁRCIO: Tem certeza que não é perigoso? E se eu viciar?
AMIGO: Vicia nada, “parça”. Ó, se você quiser, vai falar com o Suíno. Aquele gordão ali na frente que tá com os pacotinhos.
Márcio vai até Suíno.
MÁRCIO: Ei, senhor. Essa erva aí não tem perigo?
SUÍNO: Que perigo, rapaz? Isso aqui é que nem um docinho. Prova aí!
MÁRCIO: Quanto é que custa?
SUÍNO: Dois “real”.
Márcio entrega o dinheiro a Suíno, que dá o pacote com a droga e um cigarrinho para possibilitar o fumo imediato. Quando coloca o cigarro com a maconha na boca, Márcio se transforma numa pessoa com os olhos vermelhos, uma barba mal feita, cabelos embaraçados e com uma aparência horrível. São esses os efeitos das drogas!
FAZENDA DE LOURIVAL à CHIQUEIRO à MEIO-DIA (12h:02min)
Karina dá banho nos porcos da fazenda de Lourival, sempre cheia de frescuras.
KARINA: Ai, seu animal nojento! Sujou meu cabelo!
ROSIDALVA: Ih, se ansim ocê num dá conta de banhá um porco, imagina banhá o resto...
KARINA: Resto? Tem um resto?
ROSIDALVA: Oxe, ocê quiria o que? Minha fia, isso é um animar pra nóis cumê, num é pra criá não. Si nóis tivesse só um, quando matasse pra cumê num tinha mais. Tem qui tê muito porco, ansim a fartura tá garantida.
KARINA: Ai, minha Nossa Senhora do Sapatinho de Cristal!
ZAQUEU: Posso ajudá a Karina, mãe?
ROSIDALVA: Pode não, deve ajudá! Ela tá se intrapaiano todinha cum esses porco!
KARINA: Obrigado, Zaqueu!
Zaqueu ajuda Karina a dar banho nos porcos. De repente, os dois vão pegar o sabão e suas mãos se encontram. Zaqueu e Karina se olham e se aproximam, quase se beijando.
ROSIDALVA: CAHAM, CAHAM! Eu ainda tô aqui!
Karina e Zaqueu riem e continuam dando banho no porco.
Close no rosto deles. A imagem de Karina e Zaqueu sorrindo ao dar banho no porco vira uma moeda.




Nenhum comentário:

Postar um comentário