Uma
série escrita por:
Wesley
Alcântara
Personagens
deste episódio:
Ádamo
Beto
Carlão
Cíntia
Das
Dores
Donna
Glória
Luís
Renato
Sandra
Participação
Especial:
Cena
01. Valença/ Jardim de Cima/ Exterior/ Dia.
(Música
“Like a Virgin” – Madonna). Planos gerais da Praça, que tem muitas árvores em
volta, um chafariz ao centro e muitos bancos de madeira com vários grupos de
jovens sentados, conversando, ou de pé na calçada. Vozerio;
Ao
fundo a fachada do Colégio Theodorico Fonseca, que parece um palacete em tom
cinza e muito sombrio.
LETREIRO
COM: Valença/RJ, 1983.
(Fad
out trilha “Like a Virgin” – Madonna).
Ouve-se
o sinal do colégio tocar, em poucos segundos a praça enche de adolescentes com
uniforme. CAM aérea perpassa por vários grupos, até focalizar um grupo
específico, onde tem três pessoas (duas moças e um rapaz), conversando sentadas
em um banco qualquer.
CLOSE
NA CONVERSA:
Beto
(animado) – Mas vai ficar muito bom, eu garanto. A inauguração
da CELEBRARE vai ser pra arrasar.
Sandra
– Eu
quero ir pra pegar uns brotos. Sacudir o esqueleto. Tô precisando. Essa cidade
anda parada demais meu.
Beto
– Eu
sei que vou entrar naquela bagaça pra azarar as minas.
Sandra
– Por
falar em bagaça meu, tem aquele trabalho de história pra fazer, a gente precisa
ir até a Biblioteca Municipal pesquisar uns livros.
Beto
– Tem
razão.
Sandra
(a Cíntia) – E você Cíntia, animada pra inauguração da CELEBRARE?
Cíntia
– Nem
um pouco. Lá não vai ter nada do meu agrado mesmo. Vou ficar em casa estudando pra prova de química na próxima
segunda.
Beto
(tom alto) – Ah, fala sério mano. Essa cidade roça já não tem
nada o ano todo. Quando tem uma festinha bacana, tu queres malocar dentro de
casa e ficar? Não vou deixar. Sandra e eu iremos te levar, nem que seja a
força.
Sandra
– Isso
mesmo. Vai estourar nessa festa com a gente.
Cíntia
(desanimada) – Já tô vendo tudo. Vou pensar no caso de vocês.
Cíntia
fica envolvida em seus pensamentos, enquanto Beto e Sandra fazem planos para a
festa, entusiasmados.
Corta
para:
Cena
02. Cidade Valença/ Exterior/ Dia.
(Música
“Boogie Oogie oogie” – A Taste of Honey) Clipe com as imagens: Cruzeiro
Municipal, Serra dos Mascates, Catedral de Nossa Senhora da Glória, Rua dos
Mineiros.
Corta
para
Cena
03. Discoteca CELEBRARE/ Fachada/ Exterior/ Dia.
A
fachada toda decorada com discos de vinil coloridos. Letreiro em neon verde e
vermelho, traçando o nome da discoteca. Uma enorme porta vermelha em formato de
vitrola dá acesso à área interna.
Corta
para:
Cena
04. Discoteca CELEBRARE/ Salão Principal/ Interior/ Dia.
Imagens
de um DJ no centro do palco, controlando uma mesa de aparelhagens.
CAM
perpassa para vários homens montando uma decoração, com: Rebaixamento de teto,
um enorme globo metalizado no centro do salão e várias luminárias.
Close
em Renato, conversando com Das Dores, próximos ao bar da discoteca. Conversa já
iniciada.
Das
Dores – Ai amor, vamos embora. Preciso de um banho. Saí agora da
academia.
Renato
– Hoje
é a inauguração da CELEBRARE, não vai dar tempo de sair. Vou tomar banho aqui
mesmo. Tô terminando de ajustar tudo.
Das
Dores (desconfiada) – Tem certeza disso? Não vai entrar nenhuma
rameira aqui?
Renato
(abraçando e beijando Das Dores) – Eu só tenho olhos pra você baby.
Não há ninguém que eu goste mais.
Das
Dores – Sendo assim, vou nessa descolar um modelito pra inauguração logo
mais.
Das
Dores dá um selinho em Renato e sai.
Corta
para:
(Música
“Boogie Oogie Oogie” – A Taste of Houney).
Vista
do Pôr-do-Sol no cruzeiro.
Corta
para:
Cena
05. Casa de Cíntia/ Fachada Frontal/ Exterior/ Noite.
Uma
casa em dois andares, estreita em comprimento, toda amarela e decorada com
flores nas janelas.
Rua
pouco movimentada.
Cena
06. Casa de Cíntia/ Sala/ Interior/ Noite.
Luís
está sentado assistindo TV, enquanto Glória faz seu tricô, em uma poltrona ao
lado.
Glória
– Não
sei como você aguenta assistir a esses filmes de faroeste, Deus que me livre
disso.
Luís
– Se
você parasse de mexer esses trecos aí e assistisse a pelo menos um, desses
filmes garanto que se apaixonaria.
Glória
para de fazer seu tricô e começa a assistir ao filme. Pouco tempo depois a
campainha toca.
Glória
(indo atender) – Será que o Carlão esqueceu a chave em casa?
Luís
– Ele
sempre faz isto.
Glória
abre a porta.
Glória
(surpresa) – Beto? Sandra? Nossa vocês tão muito chiques. Vão
abalar hoje hein.
Luís
(tom alto) – E cheirosos.
Glória
– Entrem,
por favor!
Beto
e Sandra entram, com trajes de festa.
Sandra
– Boa
noite dona Glória, Boa noite seu Luís.
Glória
– Procurando
pela Cíntia?
Beto
– Exatamente.
Ela ficou de pensar se iria ou não com a gente na inauguração da CELEBRARE.
Glória
– Vá
até lá em cima. Ela nem desceu pra jantar, então nem sei se está acordada.
Beto
e Sandra começam a subir as escadas.
Corta
para:
Cena
07. Casa de Cíntia/ Quarto/ Interior/ Noite.
Beto
e Sandra adentram ao quarto sem bater e ficam perplexos.
Beto
(boquiaberto) – Você tá DI-VI-NA!
CAM
focaliza em Cíntia, totalmente arrumada, maquiada e com um vestido de cetim vermelho
sangue.
Cíntia
- Chega
de ficar em casa. Tô na flor da juventude, não é? Bora balançar o esqueleto.
Sandra
– Você
vai com esse salto enorme?
Cíntia
olha pro salto e volta seu olhar para Sandra.
Cíntia
– E
você quer que eu vá com o que? Havaianas?
Sandra
– Daqui
do Benfica, até o centro tem chão pra caramba.
Beto
– Fora
que é tudo paralelepípedo e estamos sem grana pro táxi.
Cíntia
– Quem
vai pagar o táxi hoje sou eu. Tô prometendo uma noite de gala.
Beto
– Nossa
você hoje tá outra Cíntia.
Cíntia
– Chega
de bancar a jovem tímida, hoje eu sou a mulher fatal.
Cíntia
vira-se para sua penteadeira e passa um batom vermelho nos lábios. Close no
batom.
Corta
para:
Cena
08. Bairro Benfica/ Posto de Gasolina/ Exterior/ Noite.
Beto,
Cíntia e Sandra estão parados em frente ao posto de gasolina, conversando.
Beto
– Tem
certeza de que é aqui? Estamos a uns quinze minutos aqui já.
Cíntia
– Marquei
com ele aqui. Liguei antes de sair de casa. A não ser que seja tão desligado e
tenha ido a outro posto na cidade.
Sandra
– Mas
você disse Benfica?
Cíntia
– óbvio
né.
Nesse
instante o táxi aparece.
Beto
(andando) – Vocês duas vão atrás e eu.../
Cíntia
(corta) – Eu vou na frente hoje. Tô bancando, não tô? Então eu escolho meu
lugar.
Beto
(sem graça) – Como você quiser.
Ádamo,
o taxista, fica embasbacado com a beleza de Cíntia e então abre a porta para
que ela entre.
Cíntia
(entrando) – Obrigada.
Sandra
e Beto entram pela porta traseira.
Corta
para:
Cena
09. Discoteca CELEBRARE/ Salão Principal/ Interior/ Noite.
Planos
gerais da festa. Convidados chegando sob flashes dos fotógrafos. Vozerio, muita
movimentação, muitos convidados, clima chique, noite elegante. Renato, muito
chique, dá entrevista a Carlão, que anota tudo em um bloquinho.
Renato
– A
inauguração da CELEBRARE inicia uma nova fase na cidade. A Era Disco, que antes
era apenas luxo dos grandes centros urbanos, agora é acessível a todos os
cidadãos Valencianos e da Região aqui do Médio Paraíba.
Carlão
– Você
não tem medo da discoteca ser mais um fracasso? Como aconteceu com tantas
outras que tentaram se instalar nas cidades pequenas?
Renato
– Não.
Nós pensamos antes de trazer a discoteca para cá. Foi tudo feito sob muito
estudo. A CELEBRARE é uma forma de entretenimento dos jovens, uma forma de
diversão dos adultos e um espaço de lazer aos idosos. Eu queria a muito tempo
trazer um espaço novo para Valença.
Carlão
– Quando
você diz: “Nós pensamos antes de trazer...” Nós quem?
Renato
– Eu
e o meu sócio, pai da minha namorada, o Doutor Branco Guimarães.
Nesse
instante Das Dores chega e lasca um beijaço em Renato.
Das
Dores (a Carlão) – Entrevista encerrada. Agora eu preciso do meu
namorado.
Carlão
– Como
a senhorita quiser. Obrigado pela entrevista senhor Renato.
Carlão
fica ali parado, enquanto Renato e Das Dores somem entre as pessoas do salão.
Corta
para:
Cena
10. Discoteca CELEBRARE/ Entrada/ Exterior/ Noite.
Rua
com grande movimento de pessoas e carros, chegando para o evento. Do outro lado
da rua, Ádamo para o táxi.
Corta
para:
Cena
11. Táxi de Ádamo/ Interior/ Noite.
Beto
vê uma garota do lado de fora.
Beto
(saindo) – Já volto meninas, preciso saber quem é aquela
garota. Nossa que broto.
Beto
sai disparado do carro e some.
Sandra
(a Cíntia) – Amiga, vou até o banheiro. Tô muito apertada. Me
espera aqui ou vai comigo?
Cíntia
– Sabe
que eu detesto ir ao banheiro em bando, feito gaivota. Vá você. Te espero na
porta da discoteca.
Sandra
(saindo) – Tá. Mas é pra me esperar mesmo. Os convites estão na
sua bolsa.
Sandra
sai do carro.
Cíntia
(a Ádamo) – Quanto lhe devo?
Ádamo
(meigo) – Não é nada.
Cíntia
– Como
nada? Eu acionei seus serviços, delivery, o que é mais caro. Você atendeu e
agora eu não devo nada?
Ádamo
– Isso
mesmo. Foi uma honra ter você no meu humilde táxi.
Cíntia
– Sério
moço, quanto deu?
Ádamo
– Pode
me chamar de Ádamo.
Cíntia
– Prazer
Ádamo, eu sou Cíntia.
Cíntia
e Ádamo se cumprimentam com um aperto de mãos, em que Cíntia sente algo e tira
a mão rapidamente.
Ádamo
(preocupado) – O que foi? Apertei muito forte?
Cíntia
– Não,
mas... Mas eu senti uma espécie de choque. Um choque intenso e forte quando
toquei em você.
Ádamo
e Cíntia se olham com ternura.
(Música
“I don’t can stop” – Maurício Manieri).
Cíntia
– Agora
me diga quanto é.
Ádamo
– Você
tá mesmo a fim de pagar?
Cíntia
– Estou.
Ádamo
– Então
vamos fazer um trato? Marcamos um encontro para nos conhecer melhor, bater um
papo e comer algo. Assim fica paga a corrida. O que acha?
Cíntia
(sorridente) – Se isso vale mais que dinheiro pra você, tá pago
então.
Ádamo
– Amanhã
à tarde, pode ser?
Cíntia
– Cinco
horas, no Jardim de Cima?
Ádamo
(estendendo a mão) – Combinado.
Cíntia
– Não
pegarei na sua mão novamente. Vai que o choque é maior.
Cíntia
dá um longo beijo na bochecha de Ádamo e em seguida sai do táxi apressada.
Ádamo
(alisando a bochecha) – Linda. Você vai ser minha.
Corta
para:
Cena
12. Discoteca CELEBRARE/ Salão principal/ Interior/ Noite.
Carlão
está sentado em uma mesa a parte, de onde consegue visualizar Das Dores e
Renato. Carlão toma uma golada de sua cerveja, em seguida seca seu olhar em Das
Dores.
De
longe Das Dores percebe, e timidamente retribui o olhar.
Close
na conversa entre Das Dores e Renato.
Das
Dores (olhando Carlão) – Aquele cara que tá te fazendo aquelas
perguntas, é o que?
Renato
– Aspirante
à jornalista. Trabalha no jornaleco dessa cidade. Por quê?
Das
Dores – Nada, só perguntei por perguntar.
Renato
– Agora
eu vou ver se tudo tá correndo certo. Senta numa mesa qualquer e me espera.
Dentro de meia hora eu volto.
Renato
dá um selinho rápido em Das Dores e sai. Das Dores olha para Carlão, que
levanta seu copo de cerveja convidando-a. Das Dores amarra a cara e vai em
direção a ele.
Das
Dores – Que tipo de mulher você acha que eu sou?
Carlão
dá mais uma golada na cerveja.
Carlão
– Um
tipo bem gostosa. De parar o trânsito.
Das
Dores – Escute aqui, eu não sou, nunca fui e nunca serei tuas nega.
Portanto, jamais direcione o olhar pra mim ou me convide a tomar cerveja com
você.
Carlão
– Só
quis ser gentil, agradável. Vi que seu namorado tá atarefado e que a moça tá
sozinha, quis fazer uma boa intenção.
Das
Dores – De boa intenção o inferno tá cheio. Me esquece.
Carlão
– Cheia
de marra assim, playboyzinha demais pra mim. Tô fora mesmo.
Carlão
se levanta e sai sem olhar Das Dores, que fica verde de ódio.
Corta
para:
Cena
13. Discoteca CELEBRARE/ Entrada/ Exterior/ Noite.
Várias
pessoas formam uma fila na entrada, entre elas: Cíntia e Sandra.
Cíntia
– O
Beto já sumiu, escafedeu-se.
Sandra
– Deve
estar atrás de alguma mina, te aposto.
Cíntia
– E
ele pensa em alguma outra coisa?
Sandra
– Pensa
nada querida.
Chega
a vez de Cíntia e Sandra entrarem.
Corta
para:
Cena
14. Discoteca CELEBRARE/ Salão Principal/ Interior/ Noite.
A
festa continua. Planos gerais. Abre em Cíntia e Sandra, num canto.
Sandra
– Vamos
dar um rolê por aí?
Cíntia
– Demorô.
Começa
a tocar a música “Street Life”.
CAM
lenta vai beneficiando o caminhar gracioso de Cíntia, que se destaca perante a
multidão, até parar no meio da pista, bem embaixo do globo.
Sandra
– Amiga
você tá arrasando.
Cíntia
– É,
eu sei disso.
As
duas começam a gargalhar, Beto chega.
Beto
(feliz/ entusiasmado) – A festa tá rendendo. Já beijei três.
Sandra
– Seu
irmão tá aqui Cíntia?
Cíntia
– Espero
que já tenha ido embora. Ele é mais rigoroso que meus pais. Dá até um certo
medo.
Beto
(puxando as meninas) – Vem vamos dançar. Essa é a proposta, dançar até
o sol raiar.
Beto,
Cíntia e Sandra começam a dançar na pista de dança.
Corta
para Das Dores sentada na mesa onde Carlão estava, sozinha, triste.
Donna
(chegando) – Tá assim por que amiga?
Das
Dores (surpresa) – Donna, quanto tempo.
Das
Dores se levanta e a abraça.
Donna
– Rodei
um pouco da América. Mas a saudade de casa me fez voltar. Renato me contratou
pra cantar aqui hoje, aí juntei o útil ao agradável.
Das
Dores – Enfim alguma coisa boa nessa noite.
Donna
– E
a sexta-feira que tanto prometeu, nada cumpriu?
Das
Dores – Nada. Renato com esse lance de inauguração me deixou aqui,
plantada feito um pé de couve.
Donna
– Tá
chegando minha hora de subir ao palco meu bem. Mais tarde nos falamos.
Donna
se encaminha ao palco, enquanto Das Dores se senta.
Das
Dores (se olhando no espelho) – Preciso retocar a maquiagem.
Das
Dores se levanta e se encaminha ao banheiro.
Corta
para Cíntia, Beto e Sandra dançando.
Cíntia
(ofegante) – Vou ao banheiro e não me demoro... Tô apertada. Não
saiam daqui.
Sandra
assente com a cabeça e continua dançando com Beto.
CORTA
PARA: BANHEIRO.
Banheiro
movimentado, Cíntia entra direto em um dos vasos. Donna começa a cantar e todas
saem eufóricas. Das Dores entra, e começa a retocar sua maquiagem próxima a
única pia do local.
Das
Dores (se maquiando) – Preciso urgentemente de um novo blush.
Cíntia
sai do banheiro e vai em direção a pia.
Cíntia
(a Das Dores) – Pode me dar licença?
Das
dores permanece fazendo sua maquiagem.
Cíntia
então a cutuca.
Das
Dores (rude) – Não me toca, porque eu não sou calculadora.
Cíntia
(nervosa) – Então dá licença.
Das
Dores – Passa querida. Tô no meio da porta?
Cíntia
– Eu
quero lavar minhas mãos. Será que tem como você se maquiar em outro lugar?
Das
Dores – Vai dançar com essa mão fedendo mijo mesmo e não me amola.
Cíntia
– Eu
tô pedindo na educação.
Das
Dores – Eu não vou dar licença e pronto, quero ver o que tu vai fazer.
Cíntia
empurra Das Dores, que bate na parede e cai.
Cíntia
– Taí
o que eu fiz. Agora não tô mais a fim de lavar minhas mãos. Idiota.
Cíntia
sai do banheiro. Close em Das Dores caída no chão, cheia de ódio.
CORTA
PARA: SALÃO PRINCIPAL.
Donna
está no palco cantando “Boogie Oogie Oogie”.
Cíntia
passa apressada na frente do palco e acaba entrando em uma sala escura.
CORTA
PARA: SALA.
Cíntia
entra e tenta se acalmar, em seguida ouve barulhos na maçaneta. Renato entra e
dá de cara com a moça.
Corta
para:
Cena
15. Santana bar/ Calçada/ Exterior/ Noite.
Um
pequeno bar na Rua dos Mineiros, com inúmeras mesas espalhadas pela rua e pela
calçada. Close em um grupo com quatro homens, onde Ádamo e Carlão estão.
Ádamo
– Hoje
eu tenho que comemorar.
Carlão
– Mas,
por quê?
Ádamo
– Achei
a mulher da minha vida, meu maior tesouro. Ela é linda.
Carlão
– Qual
o nome?
Ádamo
– Vocês
saberão no momento certo. Primeiro eu tenho que cativar a moça.
Homem
– Ih
pelo que vejo, tem gente apaixonada aí.
Carlão
– Contanto
que a mulher não seja brava feito uma onça e mal educada feito uma porteira. Tá
tudo certo.
Ádamo
– Conheceu
uma assim?
Carlão
– A
namoradinha do dono da CELEBRARE. Aquilo lá é metida até a última lantejoula da
calça boca-de-sino. Mulherzinha ordinária. O que tem de gostosa, tem de
ordinária.
Ádamo
– Tô
vendo que não tem só um apaixonado não. Tem dois aqui nessa mesa.
Carlão
(revoltado) – Sai fora. Quero distância daquela mulher.
Ádamo
(levantando o copo) – Então faremos um brinde a todas as mulheres. As
que amamos, as que odiamos e as que admiramos.
Todos
brindam felizes.
Corta
para:
Cena
16. Discoteca CELEBRARE/ Sala/ Interior/ Noite.
Renato
e Cíntia se olham assustados.
Cíntia
(assustada) – Perdão, eu entrei aqui sem saber o que tava fazendo.
Foi tanto tumulto lá fora, tô até meio zonza.
Renato
– Achei
que fosse um ladrão, mas é uma princesa.
Cíntia
fica sem jeito.
Cíntia
– Vou
ir embora.
Renato
a segura e admira sua beleza dos pés a cabeça.
Cíntia
– Preciso
ir, meus amigos devem estar me esperando pra ir embora.
Renato
(meigo) – Diz que fica, por favor.
Cíntia
– Eu
não posso. Tenho que ir.
Renato
então encosta Cíntia na parede e lhe dá um beijaço.
(Música
“Relicário” – Nando Reis).
Corta
para:
Cena
17. Discoteca CELEBRARE/ Salão Principal/ Interior/ Noite.
Salão
movimentado. Inúmeras pessoas dançando. Donna está no palco cantando “Wisky à
go go”. Fumaça artificial e um globo luminoso dão o tom. CAM percorre todo o
local.
Close
em Das Dores, sentada em uma mesa, impaciente. De repente, Beto e Sandra passam
pelo local.
Beto
(a Sandra) – Onde será que tá aquela mina?
Sandra
– A
Cíntia?
Beto
– Ela
mesma. Ih, deve estar longe. Aposto que já foi embora e deixou a gente de
pista.
Sandra
– Demorô.
Tô indo nessa também.
Beto
– Eu
vou ficar pra poder azarar umas minas aí.
Sandra
– Fui
nessa!
Sandra
vai embora e Beto sai dançando pela multidão e tentando beijar, sem sucesso,
algumas moças.
Close
em Das Dores, com a cara amarrada.
Corta
para:
Cena
18. Discoteca CELEBRARE/ Sala/ Interior/ Noite.
Renato
e Cíntia estão terminando de se beijar.
Cíntia
(sem fôlego) – O que foi isso? Chocante!
Renato
– Eu
não sou muito bom de xaveco, por isso parti direto pra mitchuka.
Cíntia
– Você
beija muito bem. Mas, fiquei surpresa. Quem é você?
Renato
– Tu
tá a fim de ter um rolo comigo?
Cíntia
– Demorô.
Mas qual o seu nome?
Renato
– Me
chamo Renato, sou dono dessa boate.
Cíntia
(afobada) – Ih, preciso ir. Meus amigos vão me matar.
Renato
– Amanhã
5 horas no Jardim de cima, topa?
Cíntia
– É
claro que eu topo.
Renato
dá mais um beijo AVASSALADOR em Cíntia.
Corta
para:
Cena
19. Discoteca CELEBRARE/ Salão Principal/ Interior/ Noite.
Som
ambiente “Vou de táxi – Angélica”. Várias pessoas conversando e coreografando a
música. Das Dores permanece do mesmo modo que estava na cena 17.
Donna
chega e se senta ao seu lado.
Donna
– Tá
assim por quê?
Das
Dores – Fiquei de pista aqui, feito a Interlagos. Renato tomou Doril.
Donna
– Como
assim, tomou Doril?
Das
Dores – Sumiu, evaporou. Não sei onde ele tá.
Donna
– Tu
tá gamada nesse burguês né?
Das
Dores – Vamos noivar.
Donna
– Vamos
tomar algo?
Das
Dores – Só se for veneno. Pra ver se assim, o Renato me dá atenção.
Donna
– Calma
amiga linda. Hoje é a inauguração e ele não quer que nada dê errado. Só isso.
Das
Dores – Mas tá tudo errado pra mim. E quer saber? Tô vazando fera.
Donna
– Fica
até amanhecer.
Das
Dores – A única coisa amanhecida que quero, é um pão, com bastante
manteiga e um copo de café. Tô rapando fora.
Das
Dores se levanta e sai por entre a multidão.
Corta
para:
Cena
20. Rua dos Mineiros/ Santana Bar/ Calçada/ Exterior/ Noite.
Apenas
Ádamo e Carlão, estão sentados em uma mesa na calçada da rua. Mesa com inúmeras
garrafas de cerveja.
Carlão
– Vai
nem me dizer com que letra começa o nome dessa princesa?
Ádamo
– Deixa
de ser curioso brother. Na hora certa tu vai ver.
Carlão
(olhando o relógio) – Preciso ir embora. Amanhã tenho que estar bem
cedo no trampo. Me leva em casa? Pago a corrida.
Ádamo
– Demorô.
Vamos lá.
Carlão
– Seu
possante tá onde?
Ádamo
– Na
frente da discoteca. Se importa de ir andando até lá?
Carlão
(se levantando) – Claro que não. Eu vou indo na frente, porque quero
dar uma mijada ali na rua. Tu paga a conta?
Ádamo
– Pago
sim.
Carlão
então sai caminhando pela rua, enquanto Ádamo se dirige ao interior do bar.
Corta
para:
Cena
21. Discoteca CELEBRARE/ Entrada/ Calçada/ Exterior/ Noite.
Algumas
pessoas estão conversando na calçada. Ouve-se o som ambiente que está no
interior (música “UPSIDE DOWN” Diane Ross). Cíntia está na calçada, sozinha,
fazendo sinal para os táxis que passam, porém não obtém êxito. Nesse instante
Das Dores vem por trás dela e a empurra com total força, o que a faz cair no
meio da rua.
Das
Dores (irônica) – Tá caindo de madura filhinha? Tomate podre é preto e
não vermelho.
Algumas
pessoas ajudam Cíntia a se levantar. Cíntia olha com ódio para Das Dores.
Das
Dores (debochando) – Me olha tanto assim não que eu me apaixono.
Cíntia
(ódio) – A única coisa que vai apaixonar aqui é a minha mão na sua cara,
sua patricinha de merda.
Cíntia
dá um tapão na cara de Das Dores, que devolve na mesma intensidade.
As
pessoas formam uma roda em volta das duas garotas.
Povo
(coral) – Briga, briga, briga, briga.
Das
Dores e Cíntia se olham com ódio e começam a brigar, puxando cabelo e rolando
no chão.
Do
outro lado da rua Carlão percebe a briga e chega mais perto para olhar.
Carlão
(assustado) – Cíntia?
Carlão
rompe a roda em volta das garotas e separa a briga.
Das
Dores (gritando) – Volta aqui sua galinha. Não quer bancar a gostosona?
Cíntia
– Eu
vou acabar com a sua raça.
Carlão
(gritando) – Parem com isso! (a
Cíntia) – E você, que é isso?
Das
dores (a Carlão) – Defende sua namoradinha mesmo.
Carlão
– Ela
é minha irmã.
Carlão
sai puxando Cíntia, fortemente, pelo braço.
Carlão
(bravo) – Rolando no chão, que vergonha. Batendo boca na rua, feito uma
puta.
Cíntia
(descontrolada) – Não me chama de puta.
Carlão
– Vexatório
o que você fez. Vamos embora a pé pra você aprender.
Carlão
e Cíntia seguem pela rua a pé.
Corta
para:
Takes
da cidade amanhecendo. (Música “Somos tão Jovens” – Legião Urbana).
Corta
para:
Cena
22. Casa de Cíntia/ Quarto/ Interior/ Dia.
Cíntia
está de pijama, com cabelo e maquiagem da noite anterior, conversando com
Sandra. Conversa já em andamento.
Sandra
(chocada) – Mentira que tu fez isso?
Cíntia
– Dei
na cara daquela burguesinha metida. Uma sovada grande.
Sandra
– Meu
Deus. Você passou dos limites.
Cíntia
– Qual
é Sandra? Vai ficar igual o Carlão?
Sandra
– Onde
já se viu ficar brigando? Isso não combina com você.
Cíntia
– Por
falar em combinar, eu não sei qual roupa devo usar hoje, no meu encontro, ou
melhor, meus encontros.
Sandra
(animada) – Arrumou uns brotos ontem?
Cíntia
– Dois
na verdade. E eles marcaram no mesmo horário, o que faço?
Sandra
– Desmarca
com um deles. O que você menos gostou.
Cíntia
– Já
sei. Farei assim: Ficarei lá no jardim de boa, se o taxista aparecer primeiro,
eu dou uma desculpa e dispenso ele. Já se o Renato aparecer primeiro, eu saio
com ele numa boa.
Sandra
– E
se os dois aparecerem juntos?
Cíntia
faz cara de preocupada.
Cíntia
– Acho
impossível isso acontecer.
Corta
para:
Cena
23. Cidade Valença/ Pontos Turísticos/ Exterior dia.
(Música
“Boogie Oogie Oogie” – Taste of houney). CLIP com imagens da Catedral de Nossa
Senhora da Glória, Cruzeiro Municipal, Serra dos Mascates, Rua dos Mineiros
(movimentação), Açude da Concórdia e terminando no Jardim de Cima.
Corta
para:
Cena
24. Jardim de Cima/ Exterior/ Dia.
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em Cíntia, de pé, no meio da praça.
Cíntia
(olhando o relógio) – Exatamente 5 da tarde.
Cíntia
olha para um lado e vê Renato vindo em sua direção, olha para o outro lado e vê
Ádamo também caminhando em sua direção.
Cíntia
(desesperada) – E agora o que faço?
Corta
para:
FIM
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