segunda-feira, 4 de maio de 2015

Episódio 1: Pecado Original

Uma série escrita por:
Wesley Alcântara

Personagens deste episódio:
Ádamo
Beto
Carlão
Cíntia
Das Dores
Donna
Glória
Luís
Renato
Sandra

Participação Especial:
Homem        
Cena 01. Valença/ Jardim de Cima/ Exterior/ Dia.
(Música “Like a Virgin” – Madonna). Planos gerais da Praça, que tem muitas árvores em volta, um chafariz ao centro e muitos bancos de madeira com vários grupos de jovens sentados, conversando, ou de pé na calçada. Vozerio;
Ao fundo a fachada do Colégio Theodorico Fonseca, que parece um palacete em tom cinza e muito sombrio.
LETREIRO COM: Valença/RJ, 1983.
(Fad out trilha “Like a Virgin” – Madonna).
Ouve-se o sinal do colégio tocar, em poucos segundos a praça enche de adolescentes com uniforme. CAM aérea perpassa por vários grupos, até focalizar um grupo específico, onde tem três pessoas (duas moças e um rapaz), conversando sentadas em um banco qualquer.
CLOSE NA CONVERSA:
Beto (animado) – Mas vai ficar muito bom, eu garanto. A inauguração da CELEBRARE vai ser pra arrasar.
Sandra – Eu quero ir pra pegar uns brotos. Sacudir o esqueleto. Tô precisando. Essa cidade anda parada demais meu.
Beto – Eu sei que vou entrar naquela bagaça pra azarar as minas.
Sandra – Por falar em bagaça meu, tem aquele trabalho de história pra fazer, a gente precisa ir até a Biblioteca Municipal pesquisar uns livros.
Beto – Tem razão.
Sandra (a Cíntia) – E você Cíntia, animada pra inauguração da CELEBRARE?
Cíntia – Nem um pouco. Lá não vai ter nada do meu agrado mesmo. Vou ficar em casa estudando pra prova de química na próxima segunda.
Beto (tom alto) – Ah, fala sério mano. Essa cidade roça já não tem nada o ano todo. Quando tem uma festinha bacana, tu queres malocar dentro de casa e ficar? Não vou deixar. Sandra e eu iremos te levar, nem que seja a força.
Sandra – Isso mesmo. Vai estourar nessa festa com a gente.
Cíntia (desanimada) – Já tô vendo tudo. Vou pensar no caso de vocês.
Cíntia fica envolvida em seus pensamentos, enquanto Beto e Sandra fazem planos para a festa, entusiasmados.
Corta para:
Cena 02. Cidade Valença/ Exterior/ Dia.
(Música “Boogie Oogie oogie” – A Taste of Honey) Clipe com as imagens: Cruzeiro Municipal, Serra dos Mascates, Catedral de Nossa Senhora da Glória, Rua dos Mineiros.
Corta para
Cena 03. Discoteca CELEBRARE/ Fachada/ Exterior/ Dia.
A fachada toda decorada com discos de vinil coloridos. Letreiro em neon verde e vermelho, traçando o nome da discoteca. Uma enorme porta vermelha em formato de vitrola dá acesso à área interna.
Corta para:
Cena 04. Discoteca CELEBRARE/ Salão Principal/ Interior/ Dia.
Imagens de um DJ no centro do palco, controlando uma mesa de aparelhagens.
CAM perpassa para vários homens montando uma decoração, com: Rebaixamento de teto, um enorme globo metalizado no centro do salão e várias luminárias.
Close em Renato, conversando com Das Dores, próximos ao bar da discoteca. Conversa já iniciada.
Das Dores – Ai amor, vamos embora. Preciso de um banho. Saí agora da academia.
Renato – Hoje é a inauguração da CELEBRARE, não vai dar tempo de sair. Vou tomar banho aqui mesmo. Tô terminando de ajustar tudo.
Das Dores (desconfiada) – Tem certeza disso? Não vai entrar nenhuma rameira aqui?
Renato (abraçando e beijando Das Dores) – Eu só tenho olhos pra você baby. Não há ninguém que eu goste mais.
Das Dores – Sendo assim, vou nessa descolar um modelito pra inauguração logo mais.
Das Dores dá um selinho em Renato e sai.
Corta para:
(Música “Boogie Oogie Oogie” – A Taste of Houney).
Vista do Pôr-do-Sol no cruzeiro.
Corta para:
Cena 05. Casa de Cíntia/ Fachada Frontal/ Exterior/ Noite.
Uma casa em dois andares, estreita em comprimento, toda amarela e decorada com flores nas janelas.
Rua pouco movimentada.
Cena 06. Casa de Cíntia/ Sala/ Interior/ Noite.
Luís está sentado assistindo TV, enquanto Glória faz seu tricô, em uma poltrona ao lado.
Glória – Não sei como você aguenta assistir a esses filmes de faroeste, Deus que me livre disso.
Luís – Se você parasse de mexer esses trecos aí e assistisse a pelo menos um, desses filmes garanto que se apaixonaria.
Glória para de fazer seu tricô e começa a assistir ao filme. Pouco tempo depois a campainha toca.
Glória (indo atender) – Será que o Carlão esqueceu a chave em casa?
Luís – Ele sempre faz isto.
Glória abre a porta.
Glória (surpresa) – Beto? Sandra? Nossa vocês tão muito chiques. Vão abalar hoje hein.
Luís (tom alto) – E cheirosos.
Glória – Entrem, por favor!
Beto e Sandra entram, com trajes de festa.
Sandra – Boa noite dona Glória, Boa noite seu Luís.
Glória – Procurando pela Cíntia?
Beto – Exatamente. Ela ficou de pensar se iria ou não com a gente na inauguração da CELEBRARE.
Glória – Vá até lá em cima. Ela nem desceu pra jantar, então nem sei se está acordada.
Beto e Sandra começam a subir as escadas.
Corta para:
Cena 07. Casa de Cíntia/ Quarto/ Interior/ Noite.
Beto e Sandra adentram ao quarto sem bater e ficam perplexos.
Beto (boquiaberto) – Você tá DI-VI-NA!
CAM focaliza em Cíntia, totalmente arrumada, maquiada e com um vestido de cetim vermelho sangue.
Cíntia - Chega de ficar em casa. Tô na flor da juventude, não é? Bora balançar o esqueleto.
Sandra – Você vai com esse salto enorme?
Cíntia olha pro salto e volta seu olhar para Sandra.
Cíntia – E você quer que eu vá com o que? Havaianas?
Sandra – Daqui do Benfica, até o centro tem chão pra caramba.
Beto – Fora que é tudo paralelepípedo e estamos sem grana pro táxi.
Cíntia – Quem vai pagar o táxi hoje sou eu. Tô prometendo uma noite de gala.
Beto – Nossa você hoje tá outra Cíntia.
Cíntia – Chega de bancar a jovem tímida, hoje eu sou a mulher fatal.
Cíntia vira-se para sua penteadeira e passa um batom vermelho nos lábios. Close no batom.
Corta para:
Cena 08. Bairro Benfica/ Posto de Gasolina/ Exterior/ Noite.
Beto, Cíntia e Sandra estão parados em frente ao posto de gasolina, conversando.
Beto – Tem certeza de que é aqui? Estamos a uns quinze minutos aqui já.
Cíntia – Marquei com ele aqui. Liguei antes de sair de casa. A não ser que seja tão desligado e tenha ido a outro posto na cidade.
Sandra – Mas você disse Benfica?
Cíntia – óbvio né.
Nesse instante o táxi aparece.
Beto (andando) – Vocês duas vão atrás e eu.../
Cíntia (corta) – Eu vou na frente hoje. Tô bancando, não tô? Então eu escolho meu lugar.
Beto (sem graça) – Como você quiser.
Ádamo, o taxista, fica embasbacado com a beleza de Cíntia e então abre a porta para que ela entre.
Cíntia (entrando) – Obrigada.
Sandra e Beto entram pela porta traseira.
Corta para:
Cena 09. Discoteca CELEBRARE/ Salão Principal/ Interior/ Noite.
Planos gerais da festa. Convidados chegando sob flashes dos fotógrafos. Vozerio, muita movimentação, muitos convidados, clima chique, noite elegante. Renato, muito chique, dá entrevista a Carlão, que anota tudo em um bloquinho.
Renato – A inauguração da CELEBRARE inicia uma nova fase na cidade. A Era Disco, que antes era apenas luxo dos grandes centros urbanos, agora é acessível a todos os cidadãos Valencianos e da Região aqui do Médio Paraíba.
Carlão – Você não tem medo da discoteca ser mais um fracasso? Como aconteceu com tantas outras que tentaram se instalar nas cidades pequenas?
Renato – Não. Nós pensamos antes de trazer a discoteca para cá. Foi tudo feito sob muito estudo. A CELEBRARE é uma forma de entretenimento dos jovens, uma forma de diversão dos adultos e um espaço de lazer aos idosos. Eu queria a muito tempo trazer um espaço novo para Valença.
Carlão – Quando você diz: “Nós pensamos antes de trazer...” Nós quem?
Renato – Eu e o meu sócio, pai da minha namorada, o Doutor Branco Guimarães.
Nesse instante Das Dores chega e lasca um beijaço em Renato.
Das Dores (a Carlão) – Entrevista encerrada. Agora eu preciso do meu namorado.
Carlão – Como a senhorita quiser. Obrigado pela entrevista senhor Renato.
Carlão fica ali parado, enquanto Renato e Das Dores somem entre as pessoas do salão.
Corta para:
Cena 10. Discoteca CELEBRARE/ Entrada/ Exterior/ Noite.
Rua com grande movimento de pessoas e carros, chegando para o evento. Do outro lado da rua, Ádamo para o táxi.
Corta para:
Cena 11. Táxi de Ádamo/ Interior/ Noite.
Beto vê uma garota do lado de fora.
Beto (saindo) – Já volto meninas, preciso saber quem é aquela garota. Nossa que broto.
Beto sai disparado do carro e some.
Sandra (a Cíntia) – Amiga, vou até o banheiro. Tô muito apertada. Me espera aqui ou vai comigo?
Cíntia – Sabe que eu detesto ir ao banheiro em bando, feito gaivota. Vá você. Te espero na porta da discoteca.
Sandra (saindo) – Tá. Mas é pra me esperar mesmo. Os convites estão na sua bolsa.
Sandra sai do carro.
Cíntia (a Ádamo) – Quanto lhe devo?
Ádamo (meigo) – Não é nada.
Cíntia – Como nada? Eu acionei seus serviços, delivery, o que é mais caro. Você atendeu e agora eu não devo nada?
Ádamo – Isso mesmo. Foi uma honra ter você no meu humilde táxi.
Cíntia – Sério moço, quanto deu?
Ádamo – Pode me chamar de Ádamo.
Cíntia – Prazer Ádamo, eu sou Cíntia.
Cíntia e Ádamo se cumprimentam com um aperto de mãos, em que Cíntia sente algo e tira a mão rapidamente.
Ádamo (preocupado) – O que foi? Apertei muito forte?
Cíntia – Não, mas... Mas eu senti uma espécie de choque. Um choque intenso e forte quando toquei em você.
Ádamo e Cíntia se olham com ternura.
(Música “I don’t can stop” – Maurício Manieri).
Cíntia – Agora me diga quanto é.
Ádamo – Você tá mesmo a fim de pagar?
Cíntia – Estou.
Ádamo – Então vamos fazer um trato? Marcamos um encontro para nos conhecer melhor, bater um papo e comer algo. Assim fica paga a corrida. O que acha?
Cíntia (sorridente) – Se isso vale mais que dinheiro pra você, tá pago então.
Ádamo – Amanhã à tarde, pode ser?
Cíntia – Cinco horas, no Jardim de Cima?
Ádamo (estendendo a mão) – Combinado.
Cíntia – Não pegarei na sua mão novamente. Vai que o choque é maior.
Cíntia dá um longo beijo na bochecha de Ádamo e em seguida sai do táxi apressada.
Ádamo (alisando a bochecha) – Linda. Você vai ser minha.
Corta para:
Cena 12. Discoteca CELEBRARE/ Salão principal/ Interior/ Noite.
Carlão está sentado em uma mesa a parte, de onde consegue visualizar Das Dores e Renato. Carlão toma uma golada de sua cerveja, em seguida seca seu olhar em Das Dores.
De longe Das Dores percebe, e timidamente retribui o olhar.
Close na conversa entre Das Dores e Renato.
Das Dores (olhando Carlão) – Aquele cara que tá te fazendo aquelas perguntas, é o que?
Renato – Aspirante à jornalista. Trabalha no jornaleco dessa cidade. Por quê?
Das Dores – Nada, só perguntei por perguntar.
Renato – Agora eu vou ver se tudo tá correndo certo. Senta numa mesa qualquer e me espera. Dentro de meia hora eu volto.
Renato dá um selinho rápido em Das Dores e sai. Das Dores olha para Carlão, que levanta seu copo de cerveja convidando-a. Das Dores amarra a cara e vai em direção a ele.
Das Dores – Que tipo de mulher você acha que eu sou?
Carlão dá mais uma golada na cerveja.
Carlão – Um tipo bem gostosa. De parar o trânsito.
Das Dores – Escute aqui, eu não sou, nunca fui e nunca serei tuas nega. Portanto, jamais direcione o olhar pra mim ou me convide a tomar cerveja com você.
Carlão – Só quis ser gentil, agradável. Vi que seu namorado tá atarefado e que a moça tá sozinha, quis fazer uma boa intenção.
Das Dores – De boa intenção o inferno tá cheio. Me esquece.
Carlão – Cheia de marra assim, playboyzinha demais pra mim. Tô fora mesmo.
Carlão se levanta e sai sem olhar Das Dores, que fica verde de ódio.
Corta para:
Cena 13. Discoteca CELEBRARE/ Entrada/ Exterior/ Noite.
Várias pessoas formam uma fila na entrada, entre elas: Cíntia e Sandra.
Cíntia – O Beto já sumiu, escafedeu-se.
Sandra – Deve estar atrás de alguma mina, te aposto.
Cíntia – E ele pensa em alguma outra coisa?
Sandra – Pensa nada querida.
Chega a vez de Cíntia e Sandra entrarem.
Corta para:
Cena 14. Discoteca CELEBRARE/ Salão Principal/ Interior/ Noite.
A festa continua. Planos gerais. Abre em Cíntia e Sandra, num canto.
Sandra – Vamos dar um rolê por aí?
Cíntia – Demorô.
Começa a tocar a música “Street Life”.
CAM lenta vai beneficiando o caminhar gracioso de Cíntia, que se destaca perante a multidão, até parar no meio da pista, bem embaixo do globo.
Sandra – Amiga você tá arrasando.
Cíntia – É, eu sei disso.
As duas começam a gargalhar, Beto chega.
Beto (feliz/ entusiasmado) – A festa tá rendendo. Já beijei três.
Sandra – Seu irmão tá aqui Cíntia?
Cíntia – Espero que já tenha ido embora. Ele é mais rigoroso que meus pais. Dá até um certo medo.
Beto (puxando as meninas) – Vem vamos dançar. Essa é a proposta, dançar até o sol raiar.
Beto, Cíntia e Sandra começam a dançar na pista de dança.
Corta para Das Dores sentada na mesa onde Carlão estava, sozinha, triste.
Donna (chegando) – Tá assim por que amiga?
Das Dores (surpresa) – Donna, quanto tempo.
Das Dores se levanta e a abraça.
Donna – Rodei um pouco da América. Mas a saudade de casa me fez voltar. Renato me contratou pra cantar aqui hoje, aí juntei o útil ao agradável.
Das Dores – Enfim alguma coisa boa nessa noite.
Donna – E a sexta-feira que tanto prometeu, nada cumpriu?
Das Dores – Nada. Renato com esse lance de inauguração me deixou aqui, plantada feito um pé de couve.
Donna – Tá chegando minha hora de subir ao palco meu bem. Mais tarde nos falamos.
Donna se encaminha ao palco, enquanto Das Dores se senta.
Das Dores (se olhando no espelho) – Preciso retocar a maquiagem.
Das Dores se levanta e se encaminha ao banheiro.
Corta para Cíntia, Beto e Sandra dançando.
Cíntia (ofegante) – Vou ao banheiro e não me demoro... Tô apertada. Não saiam daqui.
Sandra assente com a cabeça e continua dançando com Beto.
CORTA PARA: BANHEIRO.
Banheiro movimentado, Cíntia entra direto em um dos vasos. Donna começa a cantar e todas saem eufóricas. Das Dores entra, e começa a retocar sua maquiagem próxima a única pia do local.
Das Dores (se maquiando) – Preciso urgentemente de um novo blush.
Cíntia sai do banheiro e vai em direção a pia.
Cíntia (a Das Dores) – Pode me dar licença?
Das dores permanece fazendo sua maquiagem.
Cíntia então a cutuca.
Das Dores (rude) – Não me toca, porque eu não sou calculadora.
Cíntia (nervosa) – Então dá licença.
Das Dores – Passa querida. Tô no meio da porta?
Cíntia – Eu quero lavar minhas mãos. Será que tem como você se maquiar em outro lugar?
Das Dores – Vai dançar com essa mão fedendo mijo mesmo e não me amola.
Cíntia – Eu tô pedindo na educação.
Das Dores – Eu não vou dar licença e pronto, quero ver o que tu vai fazer.
Cíntia empurra Das Dores, que bate na parede e cai.
Cíntia – Taí o que eu fiz. Agora não tô mais a fim de lavar minhas mãos. Idiota.
Cíntia sai do banheiro. Close em Das Dores caída no chão, cheia de ódio.
CORTA PARA: SALÃO PRINCIPAL.
Donna está no palco cantando “Boogie Oogie Oogie”.
Cíntia passa apressada na frente do palco e acaba entrando em uma sala escura.
CORTA PARA: SALA.
Cíntia entra e tenta se acalmar, em seguida ouve barulhos na maçaneta. Renato entra e dá de cara com a moça.
Corta para:
Cena 15. Santana bar/ Calçada/ Exterior/ Noite.
Um pequeno bar na Rua dos Mineiros, com inúmeras mesas espalhadas pela rua e pela calçada. Close em um grupo com quatro homens, onde Ádamo e Carlão estão.
Ádamo – Hoje eu tenho que comemorar.
Carlão – Mas, por quê?
Ádamo – Achei a mulher da minha vida, meu maior tesouro. Ela é linda.
Carlão – Qual o nome?
Ádamo – Vocês saberão no momento certo. Primeiro eu tenho que cativar a moça.
Homem – Ih pelo que vejo, tem gente apaixonada aí.
Carlão – Contanto que a mulher não seja brava feito uma onça e mal educada feito uma porteira. Tá tudo certo.
Ádamo – Conheceu uma assim?
Carlão – A namoradinha do dono da CELEBRARE. Aquilo lá é metida até a última lantejoula da calça boca-de-sino. Mulherzinha ordinária. O que tem de gostosa, tem de ordinária.
Ádamo – Tô vendo que não tem só um apaixonado não. Tem dois aqui nessa mesa.
Carlão (revoltado) – Sai fora. Quero distância daquela mulher.
Ádamo (levantando o copo) – Então faremos um brinde a todas as mulheres. As que amamos, as que odiamos e as que admiramos.
Todos brindam felizes.
Corta para:
Cena 16. Discoteca CELEBRARE/ Sala/ Interior/ Noite.
Renato e Cíntia se olham assustados.
Cíntia (assustada) – Perdão, eu entrei aqui sem saber o que tava fazendo. Foi tanto tumulto lá fora, tô até meio zonza.
Renato – Achei que fosse um ladrão, mas é uma princesa.
Cíntia fica sem jeito.
Cíntia – Vou ir embora.
Renato a segura e admira sua beleza dos pés a cabeça.
Cíntia – Preciso ir, meus amigos devem estar me esperando pra ir embora.
Renato (meigo) – Diz que fica, por favor.
Cíntia – Eu não posso. Tenho que ir.
Renato então encosta Cíntia na parede e lhe dá um beijaço.
(Música “Relicário” – Nando Reis).
Corta para:
Cena 17. Discoteca CELEBRARE/ Salão Principal/ Interior/ Noite.
Salão movimentado. Inúmeras pessoas dançando. Donna está no palco cantando “Wisky à go go”. Fumaça artificial e um globo luminoso dão o tom. CAM percorre todo o local.
Close em Das Dores, sentada em uma mesa, impaciente. De repente, Beto e Sandra passam pelo local.
Beto (a Sandra) – Onde será que tá aquela mina?
Sandra – A Cíntia?
Beto – Ela mesma. Ih, deve estar longe. Aposto que já foi embora e deixou a gente de pista.
Sandra – Demorô. Tô indo nessa também.
Beto – Eu vou ficar pra poder azarar umas minas aí.
Sandra – Fui nessa!
Sandra vai embora e Beto sai dançando pela multidão e tentando beijar, sem sucesso, algumas moças.
Close em Das Dores, com a cara amarrada.
Corta para:
Cena 18. Discoteca CELEBRARE/ Sala/ Interior/ Noite.
Renato e Cíntia estão terminando de se beijar.
Cíntia (sem fôlego) – O que foi isso? Chocante!
Renato – Eu não sou muito bom de xaveco, por isso parti direto pra mitchuka.
Cíntia – Você beija muito bem. Mas, fiquei surpresa. Quem é você?
Renato – Tu tá a fim de ter um rolo comigo?
Cíntia – Demorô. Mas qual o seu nome?
Renato – Me chamo Renato, sou dono dessa boate.
Cíntia (afobada) – Ih, preciso ir. Meus amigos vão me matar.
Renato – Amanhã 5 horas no Jardim de cima, topa?
Cíntia – É claro que eu topo.
Renato dá mais um beijo AVASSALADOR em Cíntia.
Corta para:
Cena 19. Discoteca CELEBRARE/ Salão Principal/ Interior/ Noite.
Som ambiente “Vou de táxi – Angélica”. Várias pessoas conversando e coreografando a música. Das Dores permanece do mesmo modo que estava na cena 17.
Donna chega e se senta ao seu lado.
Donna – Tá assim por quê?
Das Dores – Fiquei de pista aqui, feito a Interlagos. Renato tomou Doril.
Donna – Como assim, tomou Doril?
Das Dores – Sumiu, evaporou. Não sei onde ele tá.
Donna – Tu tá gamada nesse burguês né?
Das Dores – Vamos noivar.
Donna – Vamos tomar algo?
Das Dores – Só se for veneno. Pra ver se assim, o Renato me dá atenção.
Donna – Calma amiga linda. Hoje é a inauguração e ele não quer que nada dê errado. Só isso.
Das Dores – Mas tá tudo errado pra mim. E quer saber? Tô vazando fera.
Donna – Fica até amanhecer.
Das Dores – A única coisa amanhecida que quero, é um pão, com bastante manteiga e um copo de café. Tô rapando fora.
Das Dores se levanta e sai por entre a multidão.
Corta para:
Cena 20. Rua dos Mineiros/ Santana Bar/ Calçada/ Exterior/ Noite.
Apenas Ádamo e Carlão, estão sentados em uma mesa na calçada da rua. Mesa com inúmeras garrafas de cerveja.
Carlão – Vai nem me dizer com que letra começa o nome dessa princesa?
Ádamo – Deixa de ser curioso brother. Na hora certa tu vai ver.
Carlão (olhando o relógio) – Preciso ir embora. Amanhã tenho que estar bem cedo no trampo. Me leva em casa? Pago a corrida.
Ádamo – Demorô. Vamos lá.
Carlão – Seu possante tá onde?
Ádamo – Na frente da discoteca. Se importa de ir andando até lá?
Carlão (se levantando) – Claro que não. Eu vou indo na frente, porque quero dar uma mijada ali na rua. Tu paga a conta?
Ádamo – Pago sim.
Carlão então sai caminhando pela rua, enquanto Ádamo se dirige ao interior do bar.
Corta para:
Cena 21. Discoteca CELEBRARE/ Entrada/ Calçada/ Exterior/ Noite.
Algumas pessoas estão conversando na calçada. Ouve-se o som ambiente que está no interior (música “UPSIDE DOWN” Diane Ross). Cíntia está na calçada, sozinha, fazendo sinal para os táxis que passam, porém não obtém êxito. Nesse instante Das Dores vem por trás dela e a empurra com total força, o que a faz cair no meio da rua.
Das Dores (irônica) – Tá caindo de madura filhinha? Tomate podre é preto e não vermelho.
Algumas pessoas ajudam Cíntia a se levantar. Cíntia olha com ódio para Das Dores.
Das Dores (debochando) – Me olha tanto assim não que eu me apaixono.
Cíntia (ódio) – A única coisa que vai apaixonar aqui é a minha mão na sua cara, sua patricinha de merda.
Cíntia dá um tapão na cara de Das Dores, que devolve na mesma intensidade.
As pessoas formam uma roda em volta das duas garotas.
Povo (coral) – Briga, briga, briga, briga.
Das Dores e Cíntia se olham com ódio e começam a brigar, puxando cabelo e rolando no chão.
Do outro lado da rua Carlão percebe a briga e chega mais perto para olhar.
Carlão (assustado) – Cíntia?
Carlão rompe a roda em volta das garotas e separa a briga.
Das Dores (gritando) – Volta aqui sua galinha. Não quer bancar a gostosona?
Cíntia – Eu vou acabar com a sua raça.
Carlão (gritando) – Parem com isso! (a Cíntia) – E você, que é isso?
Das dores (a Carlão) – Defende sua namoradinha mesmo.
Carlão – Ela é minha irmã.
Carlão sai puxando Cíntia, fortemente, pelo braço.
Carlão (bravo) – Rolando no chão, que vergonha. Batendo boca na rua, feito uma puta.
Cíntia (descontrolada) – Não me chama de puta.
Carlão – Vexatório o que você fez. Vamos embora a pé pra você aprender.
Carlão e Cíntia seguem pela rua a pé.
Corta para:
Takes da cidade amanhecendo. (Música “Somos tão Jovens” – Legião Urbana).
Corta para:
Cena 22. Casa de Cíntia/ Quarto/ Interior/ Dia.
Cíntia está de pijama, com cabelo e maquiagem da noite anterior, conversando com Sandra. Conversa já em andamento.
Sandra (chocada) – Mentira que tu fez isso?
Cíntia – Dei na cara daquela burguesinha metida. Uma sovada grande.
Sandra – Meu Deus. Você passou dos limites.
Cíntia – Qual é Sandra? Vai ficar igual o Carlão?
Sandra – Onde já se viu ficar brigando? Isso não combina com você.
Cíntia – Por falar em combinar, eu não sei qual roupa devo usar hoje, no meu encontro, ou melhor, meus encontros.
Sandra (animada) – Arrumou uns brotos ontem?
Cíntia – Dois na verdade. E eles marcaram no mesmo horário, o que faço?
Sandra – Desmarca com um deles. O que você menos gostou.
Cíntia – Já sei. Farei assim: Ficarei lá no jardim de boa, se o taxista aparecer primeiro, eu dou uma desculpa e dispenso ele. Já se o Renato aparecer primeiro, eu saio com ele numa boa.
Sandra – E se os dois aparecerem juntos?
Cíntia faz cara de preocupada.
Cíntia – Acho impossível isso acontecer.
Corta para:
Cena 23. Cidade Valença/ Pontos Turísticos/ Exterior dia.
(Música “Boogie Oogie Oogie” – Taste of houney). CLIP com imagens da Catedral de Nossa Senhora da Glória, Cruzeiro Municipal, Serra dos Mascates, Rua dos Mineiros (movimentação), Açude da Concórdia e terminando no Jardim de Cima.
Corta para:
Cena 24. Jardim de Cima/ Exterior/ Dia.
Close em Cíntia, de pé, no meio da praça.
Cíntia (olhando o relógio) – Exatamente 5 da tarde.
Cíntia olha para um lado e vê Renato vindo em sua direção, olha para o outro lado e vê Ádamo também caminhando em sua direção.
Cíntia (desesperada) – E agora o que faço?
Corta para:

FIM















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