terça-feira, 14 de junho de 2016

Capítulo 5: TERRA LIVRE



T E R R A  L I V R E
Capítulo 05

CENA 01/ NAVIO/ NOITE/ INT./ QUARTO.
Continuação imediata da última cena do capítulo anterior;
MOVIMENTAÇÃO no navio. Lorenzo sai de imediato do quarto. Vicente paralisado, nervoso. Helena entra no quarto.
HELENA         - (nervosa) O que aconteceu?! Santo Dio... O que aconteceu?
Ela olha para o lado e vê um buraco de tiro no vidro. Volta o olhar para Vicente, espantada. CORTA PARA/
CENA 02/ MANSÃO DE AFONSO/ NOITE/ INT./ QUARTO DE AFONSO.
Afonso sentado em uma cadeira, escrevendo em um livro na mesa. VELA ACESA AO LADO. Maria Tereza bate na porta, entra e vai até ele com uma xícara de café na mão. Entrega a ele.
M. TEREZA    - Fazendo conta a essa hora?
AFONSO       - Estou registrando alguns índices aqui. A venda do nosso café está ficando cada vez melhor.
M. TEREZA    - Que ótimo. Ouvi dizer na rua que os italianos já estão chegando. Fizeram as contas e me parece que faltam menos de 15 dias.
AFONSO       - Isso não é uma preocupação só minha, Maria Tereza. Cristina também está muito preocupada. Isso pode mudar completamente a nossa vida.
M. TEREZA    - E você já tem certeza do que vai fazer?
AFONSO       - Reunir todos os coronéis, os barões e prefeitos da região. Temos que nos manter firmes com nossa decisão de fazê-los escravos. Não podemos fraquejar em nenhum momento!
Afonso olha fixamente para os olhos de Maria Tereza. Ambos aflitos. CORTA PARA/
CENA 03/ MONTE VELHO - OCEANO/ EXT.
SONOPLASTIA: Cruzando Raios – Orlando Morais.
TAKES AÉREOS mostram o amanhecer. TAKE FINAL em uma cafeteria EM Monte Velho. A MÚSICA CESSA. CORTA PARA/
CENA 04/ CAFETERIA/ DIA/ INT.
Filomena entrando no local. Ela vai até o balcão.
BALCONISTA#1 - O que a senhora deseja?
FILOMENA   - Por favor, me veja um café preto... O da fazenda Leroy!
BALCONISTA#1 – Está bem. Aguarde só um minuto!
O balconista#1 prepara o café. Saulo passando por fora avista Filomena e entra. Se senta ao lado dela, que fica sem graça. O balconista#2 vai até Saulo.
SAULO           - (ao balconista#2) O mesmo de sempre.
O balconista#1 entrega a xícara de café a Filomena. O balconista#2 a Saulo em seguida.
FILOMENA   - (a Saulo) Mais uma vez nos cruzando.
SAULO           - É o destino, minha cara. É o destino! Sabe... Desde aquele dia eu fiquei pensando em você. Como se chama?
FILOMENA   - Filomena... Meu nome é Filomena. E o seu?
SAULO           - Saulo... Muito prazer!
Os dois ficam em silêncio por segundos.
SAULO           - (CONT.) Sem me querer me intrometer, mas o que faz da vida?
FILOMENA   - Eu costuro. Na verdade, ajudo minhas irmãs. Eu moro com elas. Minha mãe morreu quando eu tinha doze anos. E você? Quer saber da minha vida, mas não me diz nada sobre a sua.
SAULO           - Estou terminando um casamento de muitos anos. Recomeçando a minha vida.
FILOMENA   - (assustada) Terminando um casamento? Não sabe que isso é um choque para a sociedade?! Coitada de sua mulher, vai sofrer muito.
SAULO           - Infelizmente não posso fazer mais nada. O nosso casamento estava por um fio e esse fio acabou arrebentando. Eu quero viver minha vida, ser livre, sem a pressão de um casamento que já estava me fazendo mal!
FILOMENA   - Por esse ponto, você tem razão! Detesto mentira.
Filomena pega a xícara, derruba em Saulo sem querer. Ela fica constrangida. Ele se levanta.
FILOMENA   - (CONT.) Me perdoa... Eu não tive a intenção.
SAULO           - Tudo bem, eu já estava para trocar esse terno.
FILOMENA   - (ao Balconista#1) Me dê um pano, por favor.
O balconista#1 entrega um pano na mão de Filomena, que começa a secar Saulo.
SAULO           - Ei, não precisa ficar sem graça. Eu tenho outros ternos!
FILOMENA   - Me desculpe mais uma vez... Eu tenho que ir, tchau!
Filomena sai correndo. Saulo observando com um sorriso no rosto.
SAULO           - (grita) Ei, a onde você mo.../
Ele faz sinal positivo para o balconista#2, que vem até ele.
SAULO           - Eu quero a conta, por favor!
Saulo pensando. CORTA PARA/
CENA 05/ NAVIO/ DIA/ INT./ PARTE DE CIMA DA EMBARCAÇÃO.
Chiara colocando alimentos em uma caixa, com dificuldade. Valter vê de longe, se aproxima e ajuda-a.
CHIARA         - Grazie!
VALTER         - Percebi que está tão afastada. Aconteceu alguma coisa?
CHIARA         - Non. Só estou dando um tempo para mim!
VALTER         - Capisco. Io... Io queria te dizer que non tenho nada haver com o que aconteceu entre Helena e Vicente. Io gosto de tuo filho.
CHIARA         - Io sei que é errado, non poderia estar falando isso com você, mas io quero dizer... Uma coisa que non suporto é egoísmo. É um sentimento muito ruim, muito pequeno perto do amor. Non que você non tenha dado, mas o que falta em tua mulher é amor, Valter. Ela non conheceu essa palavra! Foi egoísta, e vai pagar alguma vez na vida. Dio é justo, e ninguém parte antes de pagar o que deve aqui embaixo. Capite?
VALTER         - Tem razão!
Chiara sai andando. Valter fica pensando. CORTA PARA/
CENA 06/ MANSÃO DE AFONSO/ DIA/ INT./ PORÃO.
Domingos quieto. FLASHS da perseguição dos capangas de Afonso contra ele. Um GUARDA entra no local.
DOMINGOS  - O que foi?
GUARDA        - Calma. Não vou fazer mal a você, muito pelo contrário.
DOMINGOS  - Anda, fale. O que quer comigo?
GUARDA        - Eu quero te ajudar. Quero te ajudar a sair desse inferno, dessa prisão.
DOMINGOS  - Não sei não, hein.
GUARDA        - Pode confiar em mim... Meu filho morreu por culpa desse maldito barão, e não vou permitir que mais sangue seja derramado das mãos desse verme!
Domingos fica pensativo. Vai até a porta. Se volta.
DOMINGOS  - E como pretende me ajudar?
GUARDA        - No mais tardar da noite eu virei aqui e te buscarei. Existe uma parede falsa no corredor. Eu ouvi o barão dizer que ela para esconder escravos rebeldes, mas desde o fim da escravidão ninguém mais entrou naquele lugar. O fato é que por lá se sai na senzala, e assim você consegue sair sem com que os capangas vejam. Eles não estão mais fazendo as vigias para aquele lado, já que pretende a Dona Cristina.
DOMINGOS  - Então eu sairei pela casa da Cristina, é isso?!
GUARDA        - Sim, sem com que seja pego!
DOMINGOS  - Eu agradeço a ajuda!
Domingos estende a mão. O guarda também. Os dois apertam as mãos.
DOMINGOS  - (CONT.) Espero poder confiar em você. Não me decepcione!
CLOSES ALTERNADOS. CORTA PARA/
CENA 07/ FAZENDA DE CRISTINA/ DIA/ INT./ SALA DE ESTAR.
Cristina, com roupa de andar à cavalo, de frente a empregada mostrando uma mala cheia de dinheiro.
CRISTINA     - Olha a quantidade de dinheiro!
EMPREGADA            - (assustada) Nossa... Mas é muito dinheiro.
CRISTINA     - Tudo isso é reflexo da venda de café. Mas mesmo assim temos que continuar tomando cuidado com os vizinhos. Afonso está vendendo mais do que nunca.
EMPREGADA            - Tem razão... O Barão está se reerguendo.
CRISTINA     - E isso é um perigo...
EMPREGADA            - Mas a senhora não foi até a casa dele? Pensei que você estavam amigos.
CRISTINA     - Às vezes somos obrigados a tomar atitudes que não gostamos. Afonso não pode voltar ao comando de Monte Velho.
EMPREGADA            - E só existe uma maneira de barrar isso.../
CRISTINA     - (corta) Qual?
EMPREGADA            - Sendo candidata à prefeitura municipal.
CRISTINA     - Concordo, mas isso seria uma afronta a ele e aí eu posso perder tudo o que tenho. Já não tenho mais o apoio de Saulo.
BATIDAS NA PORTA.
CRISTINA     - Entre!
Saulo entra nervoso. A empregada vai em direção à cozinha.
SAULO           - Precisamos conversar.
CRISTINA     - Eu pensei que já tínhamos conversado tudo o que fosse necessário, Saulo. Não insista em ficar vindo em minha casa, por favor.
SAULO           - Eu vim te dizer que eu aceito repensar no desquite. Isso pode ser ruim para você!
CRISTINA     - Eu não me importo com o que a sociedade diz, Saulo. Eu me importo é com a minha felicidade, com o meu bem e com o que eu quero.
SAULO           - É uma força que eu estou te dando, Cristina. Pensa bem!
Os dois se aproximam.
CRISTINA     - Sabe o que me impressiona em você? É que você sempre fica indeciso na sua vida. Quem quis se separar foi você! Agora não mudaremos mais nossa decisão.
SAULO           - Tem certeza?
Os dois se beijam calorosamente. Cristina vai tirando a roupa de Saulo. Ele o mesmo. Os dois caem se agarrando no chão.
Corte Descontínuo – Saulo e Cristina agarrados no chão da sala. Se levantam rapidamente, com vergonha.
CRISTINA     - Como eu pude ter feito isso, meu Deus!
SAULO           - Isso não vai acontecer novamente!
Saulo se levanta, vai se vestindo. Fica sem graça. Cristina se veste também.
SAULO           - É... Tchau!
Saulo se retira. Cristina, paralisada, se senta no sofá. CORTA PARA/
CENA 08/ CASA DAS IRMÃS SOTERO/ DIA/ INT./ SALA DE ESTAR.
Margarida dançando sem música, sozinha no meio da sala. Filomena entra, interrompe.
FILOMENA   - Dançando sozinha! De novo!
MARGARIDA            - Ih, para de inveja, irmãzinha. Estou dançando para ver se encontro algum moço na minha vida. Eu mereço casar, não mereço?
FILOMENA   - Sim, merece!
MARGARIDA            - Você também não me engana. Toda animada. O que foi?
FILOMENA   - Encontrei novamente aquele rapaz. Agora sei seu nome... Saulo. Sei que é muito cedo para isso, mas... Mas eu acho que estou sentindo algo por ele.
MARGARIDA            - E ele? Já demonstrou alguma coisa?
FILOMENA   - Parece que sente o mesmo que sinto. Ele me trata com carinho, sem procurando assunto para nós. Mas eu não quero me decepcionar, prefiro esperar.
MARGARIDA            - Tem razão. Esse mundo está cheio de homens que só pensam naquilo.
As duas se abraçam. CORTA PARA/
CENA 10/ MONTE PRAZER/ DIA/ INT./ FACHADA.
UM local todo vermelho. Uma grande placa escrito Monte Prazer, acima da porta. Várias pessoas reunidas em volta. LUZIA (aproximadamente cinquenta anos, cabelos pretos e curtos, elegante) de frente a multidão.
LUZIA            - Queridos amigos que estão presentes. Hoje é um dia muito especial. Estamos inaugurando o Monte Prazer. É aqui que você viverá os seus melhores sonhos.
Luzia corta a faixa vermelha. Todos aplaudem. Em Luzia feliz. CORTA PARA/
CENA 11/ MONTE PRAZER/ DIA/ INT./ ESCRITÓRIO.
Luzia fumando. RAQUEL (loira, aproximadamente vinte e cinco anos, olhos azuis) entra confusa no local. Se senta a frente de Luzia.
LUZIA            - Queria falar comigo, querida?
RAQUEL        - Sim, queria, Luzia.
LUZIA            - Pois então fale. Você não pode perder muito tempo!
RAQUEL        - Desde que viemos da capital eu já não aguento mais, Luzia. Estou cansada, quase sem forças. Não sei se vou suportar viver nessa vida por muito tempo.
LUZIA            - Você já está com a gente há cinco anos. Não é possível que justo agora vai desistir?!
RAQUEL        - Não é desistir. É não aguentar mais. Eu já estou totalmente cansada. Isso não é bom para você!
LUZIA            - Vou te dizer uma coisa. Quando eu tinha a sua idade tive que passar por coisas piores do que as que você está passando. Às vezes é preciso lutar, ser forte, ser firme. Se você desistir disso, nunca mais vai seguir firme na vida, Raquel. Tudo vai ser difícil pra você!
RAQUEL        - Pode ser que tenha razão!
LUZIA            - E olha, você é firme, tem a personalidade forte. Vai conseguir vencer mais essa... Agora vem cá. Me dá um abraço!
Raquel se levanta, vai até Luzia, e a abraça fortemente. Uma LÁGRIMA cai do olho de Raquel. CORTA PARA/
CENA 12/ FAZENDA DE AFONSO/ DIA/ EXT./ CAFEZAL.
SONOPLASTIA: Porto-Solidão – Fagner.
Afonso, com uma bengala nas mãos, andando entre os cafezais. Vendo os trabalhadores tirando o café. Ele se aproxima de Murilo. A MÚSICA CESSA.
AFONSO       - Fala, Murilo!
MURILO        - Como vai, Barão?
AFONSO       - E o nosso café?
Afonso pega um café do balde e o olha. Começa a rir.
AFONSO       - Mas como tá bonito!
MURILO        - Graças a Deus as pragas não chegaram esse ano, patrão.
AFONSO       - Eu te deixei responsável pelos negócios... Tem notícias boas?
MURILO        - Sim. Claro! O nosso café está muito valorizado, patrão. Parece que a praga está começando a atingir as plantações da Cristina. Os clientes dela já estão chegando até nós!
AFONSO       - Ótimo.
MURILO        - Mas tem um problema!
AFONSO       - Quem problema, Murilo?
MURILO        - A fazenda do lado... A dos Zapatta. Eles ainda estão superiores a nós em vendas.
AFONSO       - (frio) Pois queime. Queime tudo e não deixe rastros. Quero ver como esse bunda mole do Zapatta vai se recuperar! Agora preciso ir, e qualquer problema me avise.
MURILO        - Está bem!
Afonso voltando à mansão. CORTA PARA/
CENA 13/ NAVIO/ DIA/ INT./ PARTE DE CIMA DA EMBARCAÇÃO.
Lorenzo e Helena se beijando. Se afastam aos poucos.
LORENZO     - Io te amo, Helena!
HELENA         - (sem graça) Io também!
LORENZO     - Prove!
HELENA         - Como?!
LORENZO     - Prove que me ama de verdade! Se entregue a mim!
Helena se afasta, assustada. Lorenzo olhando para ela, com cara de safado.
LORENZO     - E aí?
Os dois se encaram. Helena sem reação. CORTA PARA/
CENA 14/ NAVIO/ DIA/ INT./ PORÃO.
Rogério comendo pão. Vicente ao lado, pensativo, olhando-o. Rogério percebe a preocupação de Vicente.
ROGÉRIO     - Achei estranho você vir aqui nesse horário... Non é perigoso?
VICENTE       - Non! Vir até o porão é o menos perigoso de tudo, Rogério.
ROGÉRIO     - Está acontecendo alguma coisa? Io to achando você muito estranho.
VICENTE       - Io preciso desabafar, Rogério. Se io te contar uma coisa, prometes que non contará a ninguém?
ROGÉRIO     - Claro... Io non tenho contato com ninguém mesmo. Non tem para quem contar.
VICENTE       - Io quase morri, Rogério. Estou sendo ameaçado!
ROGÉRIO     - (espantado) Como assim? Ameaçado por quem?
VICENTE       - Lorenzo... Lorenzo invadiu meu quarto com um revólver. Prometeu que iria me matar e deu um tiro na janela do navio.
ROGÉRIO     - Então por isso que io ouvi um barulho. Agora tudo faz sentido... Mas a troco de que ele fez isso?
VICENTE       - Medo. Medo, Rogério. Ele tem medo de que Helena descubra o seu verdadeiro caráter.
Rogério termina de comer o pão. Vicente se levanta.
VICENTE       - Lorenzo é muito pior do que pensávamos!
Vicente segue subindo as escadas do porão. SUSPENSE. Rogério intrigado. CORTA PARA/
CENA 15/ NAVIO/ DIA/ INT./ QUARTO ABANDONADO.
O Comandante segue andando pelo local, abandonado, poeira por todos os lados. Pinturas de famílias jogadas aos cantos. Uma CÔMODA velha de madeira empoeirada. O Comandante se aproxima, abre uma das gavetas. Tira uma caixa, também suja. Poeira rodando pelo local. Ele coloca a caixa em cima da cômoda. Abre-a devagar. Um REVÓLVER ANTIGO dentro dela, embrulhado em um lenço branco. Ele pega o revólver, ainda no lenço branco.
COMANDANTE – Non há outra saída. Ou io mato, ou ele me mata!
Ele vai saindo do quarto. DESFOQUE. CORTA RÁPIDO PARA/
CENA 16/ FAZENDA DE CRISTINA/ DIA/ INT./ SALA DE ESTAR.
VÁRIOS funcionários reunidos na sala. Cristina de frente a todos, que se comportam com muita postura.
CRISTINA     - Todos sabem o quanto luto para continuar com os negócios que a minha família tem há séculos. Está muito difícil continuar com isso tudo. As minhas forças estão se esgotando. Não tenho capacidade pra manter tudo isso.
EMPREGADA#1 – A senhora vai vender a fazenda?
CRISTINA     - Inicialmente é o que quero. Eu não sei como vou fazer, mas enfim. É muito difícil. Estou me separando. Não sei se consigo!
EMPREGADA#2 – E nós? Vamos ficar desempregados, dona Cristina?
CRISTINA     - Eu vou dar um jeito. Me parece que os Zapatta precisam de empregados, eu transfiro todos vocês para lá e vendo a fazenda. Em seguida vou morar na Capital. E é essa minha decisão!
Cristina chateada olhando para todos. CORTA PARA/
CENA 17/ NAVIO/ DIA/ INT./ PORÃO.
Lorenzo desce as escadas do porão, com raiva. Rogério dormindo. Lorenzo pega Rogério pela camisa, que acorda rapidamente.
LORENZO     - Io já sei... Já sei que tuo amiguinho já veio até aqui contar que io o ameacei. Pois bem, io non atirei de brincadeira e posso atirar para matar da próxima vez. Basta você querer... Fique longe de Vicente e verá tuo amico vivo em Brasil, ou senão verá o corpo dele boiando no oceano!
Lorenzo solta ele e sobe as escadas. Rogério assustado, sem reação. CORTA PARA/
CENA 18/ MONTE VELHO/ EXT.
SONOPLASTIA: Com Te Partiro – Andrea Botelli.
TAKES do anoitece em Monte Velho. TAKE FINAL na fachada do MONTE PRAZER. Pessoa entrando no local. CORTE RÁPIDO PARA/
CENA 19/ MONTE PRAZER/ NOITE/ INT./ SALÃO.
Luzia, chapéu na cabeça, leque na mão, sobe pequenas escadas e fica em cima de um imenso palco. Várias pessoas em volta aplaudindo-a.
LUZIA            - Agradecida, queridos. Olha... Nós fizemos o máximo possível para agradar vocês! Pintura, decoração, ah, e claro... O principal... As meninas! Elas estão deslumbrantes!
Os homens gritam. Luzia desce do palco. Mulheres dançando em cima do palco, outras, vulgares, ao lado de homens mais velhos e até mesmo adolescentes. Afonso entra no local, observando tudo em volta. Luzia vai de encontro a ele.
LUZIA            - (cont.) Mas quanto tempo, Barão! Pensei que já havia se esquecido de mim!
Afonso beija a mão de Luzia, e ri.
AFONSO       - Como eu me esqueceria de tamanha delicadeza!
LUZIA            - Não precise exagerar. Então, veio aqui para encontrar mais uma mulherzinha fácil?! É isso!
AFONSO       - Preciso me distrair, e acho que aqui é um bom lugar pra isso, não?!
LUZIA            - Escolha quem quiser... Acerte comigo depois!
AFONSO       - Obrigado!
Luzia vai conversar com outras pessoas. Afonso permanece observando. Raquel desce as escadas deslumbrante. Afonso observa-a com desejo. Ele vai se aproximando a ela, que se assusta.
AFONSO       - Poderia saber o seu nome?
RAQUEL        - Estou aqui para cumprir o meu trabalho e não para dar-lhe satisfação da minha vida pessoal.
Ela sai andando. Ele a segura pelo braço.
AFONSO       - E eu estou aqui para que você me sirva. Vou pagar por isso!
Os dois vão subindo as escadas. Raquel contra a sua vontade. CORTE RÁPIDO PARA/
CENA 20/ MONTE PRAZER/ NOITE/ INT./ QUARTO.
Afonso deitado na cama com uma taça de vinho em mãos. Raquel começa a se despir, e deita-se na cama, respirando aceleradamente. Afonso coloca a taça na mesinha ao lado. Eles se beijam e começam a adentrar um no outro.
Corte descontínuo – Raquel deitada na cama ao lado de Afonso. Ambos ofegantes. Afonso pega a taça novamente e dá uma risada.
AFONSO       - Tenho que parabenizar você pra sua patroa. É... Você foi muito boa, garota. É assim que eu gosto!
Raquel se levanta rapidamente e começa a se vestir.
RAQUEL        - Pronto. O tempo já acabou... Preciso atender outros clientes.
AFONSO       - Não vai me dá nem um beijinho de despedida?
RAQUEL        - Eu não sou paga pra forçar um namorico.
Raquel se retira. Afonso continua a beber o vinho. RISADA ALTA. FUNDE COM/
CENA 21/ MONTE PRAZER/ NOITE/ INT./ ESCRITÓRIO DE LUZIA.
Raquel de frente a Luzia, que bebe uma taça de vinho.
RAQUEL        - Sombrio... É isso que ele é. Sombrio, Luzia!
LUZIA            - (dispersando) Aceita vinho? Uma delícia... Mandei importar!
RAQUEL        - Luzia... Você não está prestando atenção no que estou dizendo!
LUZIA            - Raquel. Raquel... Você sabe como funciona aqui. Pagou bem, tem o direito de escolher a mulher que quiser. Olha, eu prometo que vou fazer o máximo pra evitar que ele escolha você. Mas tentarei... Não sei se vou conseguir!
RAQUEL        - Velho nojento!
LUZIA            - Opa. Respeite-o pelo menos... Ele é o barão dessa cidade, querendo ou não. É respeitado e pode colocar você pra fora dessa cidade apedrejada pela população. Pague para ver!
As duas se encaram. Raquel preocupada. CORTA PARA/
CENA 22/ NAVIO/ NOITE/ INT./ SALA DO COMANDANTE.
O comandante pensando. Lorenzo entra na sala.
LORENZO     - Então quer dizer que queres falar comigo?
COMANDANTE – Preciso de tua ajuda, Lorenzo.
LORENZO     - Quem diria... Você depende de mi!
COMANDANTE – Per favor, reúna todos os que estão nesta embarcação. Io quero conversar com todos. Apenas isso.
LORENZO     - Io faço... Mas com uma condição!
COMANDANTE – Que condição?
LORENZO     - Que o senhor me dê uma parte de tuo ouro que tem guardado em um baú.
COMANDANTE – Va bene. Io te dou! Mas faça isso!
Lorenzo se retira do local. O Comandante continua a ficar pensativo. CORTA PARA/
CENA 23/ NAVIO/ NOITE/ INT./ PARTE DE CIMA DA EMBARCAÇÃO.
TODOS reunidos. CONVERSAS PARALELAS. Helena ao lado de Lorenzo, preocupada. O Comandante aparece.
HELENA         - (ao Comandante) O que o senhor quer conosco? Diga logo... Temos que trabalhar!
COMANDANTE – Va bene! Acalme-se, ragazza. Depois de hoje vocês non vão mais precisar trabalhar!
TENSÃO. CLOSES ALTERNADOS ENTRE OS NAVEGANTES. CORTA PARA/
CENA 24/ MANSÃO DE AFONSO/ NOITE/ INT./ SALA DE ESTAR.
TUDO escuro. Afonso entra no local. BARULHO DE FÓSFORO SENDO RISCADO. Maria Tereza sentada em uma poltrona, de camisola, com uma lamparina acesa. Afonso se assusta.
AFONSO       - Ai que susto, Maria Tereza.
M. TEREZA    - Estava esperando você chegar. Aliás, bem tarde, não?
AFONSO       - Ah... Agora você mudou de profissão aqui dentro desta casa? Virou minha babá e deixou de ser a governanta?
M. TEREZA    - Eu não sou uma babá, não sou uma governanta... Sou uma mulher apaixonada, Afonso. Sou a mulher que te amou mais que seus próprios pais.
AFONSO       - Mas que exagero. Vai dormir, Maria Tereza. Hoje você parece que tomou uma boa dose de pinga!
M. TEREZA    - Eu fui capaz de arriscar a minha vida por você. Fui capaz de quase ser pega pela polícia por você! Eu matei por você e seria capaz de morrer por você também, Afonso. E mesmo assim você nunca me deu valor... Por que não tenta me amar?
AFONSO       - Olha... Amanhã a gente conversa. Não estou a fim de ficar ouvindo suas declarações românticas não. Vai dormir que é o melhor que você faz!
Afonso sobe as escadas. Uma lágrima escorre do olho de Maria Tereza. CORTA PARA/
CENA 25/ MANSÃO DE AFONSO/ NOITE/ INT./ PORÃO.
Domingos já com as coisas arrumadas. O segurança entra no local.
DOMINGOS  - E aí, conseguiu?
SEGURANÇA – Está tudo pronto. Vamos agora... Pelo o que eu sei o Barão saiu!
DOMINGOS  - Então vamos!
Eles saem do local. Domingos faz o sinal da cruz, e fecha a porta. CORTA PARA/
CENA 26/ MANSÃO DE AFONSO/ NOITE/ INT./ QUARTO DE AFONSO.
BARULHO ALTO. Afonso se assusta.
AFONSO       - Que barulho é esse?
Ele se levanta rapidamente, troca de roupa correndo, pega uma tocha e sai do local andando rapidamente. RITMO. CORTA PARA/
CENA 27/ MANSÃO DE AFONSO/ NOITE/ INT./ PORÃO.
Afonso abre a porta e se assusta. FOCA em sua expressão.
AFONSO       - Desgraçado!
Ele sai correndo. CORTE RÁPIDO PARA/
CENA 28/ MANSÃO DE AFONSO/ NOITE/ EXT.
RITMO. Afonso vai até a frente da mansa que tem vários cavalos. Monta em um e com uma tocha na mão segue rapidamente.
AFONSO       - Dessa vez você não me escapa!
FOCA em Afonso. CORTA PARA/
CENA 29/ NAVIO/ NOITE/ INT./ PARTE DE CIMA DA EMBARCAÇÃO.
TODOS aflitos. O Comandante fazendo suspense. Helena enfurecida.
HELENA         - (furiosa) Dá para o senhor falar rápido o que quer, caspita!
COMANDANTE – Como todos estão cansados, non?! Estão deprimidos... Mas... Tenham certeza. Tenham certeza absoluta que isso vai acabar...
O Comandante tira lentamente um revólver no bolso e aponta para frente. Todos assustados, olhando o revólver. Vicente afastando, protegendo Chiara.
COMANDANTE – Andiamo! Io non tenho muito tempo! Quem será o primeiro?!
FOCA no rosto do comandante com ódio. Closes alternados entre ele e Helena.
EFEITO FINAL: CONGELA EM HELENA AFLITA






























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