domingo, 31 de julho de 2016

Episódio 4: Meia Estrela

EPISÓDIO 4: Ô ARRAIÁ BÃO!

Escrito por Vitor Abou


CENA 1: STOCK SHOTS. NOITE. EXT. RUAS DE ICARAÍ, NITERÓI.
Pessoas andando pelas ruas do bairro, muitas com roupas de festa Julina, com chapéus e adereços quadriculados.
SONOPLASTIA: Óia eu aqui de novo – Luiz Gonzaga
Corta para:

CENA 2: APARTAMENTO 1003, EDIFÍCIO SANTA FÁTIMA. NOITE. INT.
Márcia sentada em seu sofá lendo uma revista de moda. Bozena limpando os móveis da sala.
MÁRCIA: Ah, detesto música de festa junina.
BOZENA: Mas é festa julina, dona Márcia. Estamos em julho.
MÁRCIA: Bozena, a música é a mesma. Não me enche o saco.
BOZENA: Desculpa, dona Márcia. Por que nunca tem festa junina, julina aqui no Santa Fátima?
MÁRCIA: Porque eu detesto esse tipo de música e de festa, então como já sou a síndica há uns anos, acabei com essa palhaçada.
BOZENA: Ah, a senhora é muito sem graça, dona Márcia. Nunca dançou um arrasta pé não?
MÁRCIA: O único pé que tem que ser arrastado é o seu, pra cozinha!
BOZENA: Dona Márcia, sabia que lá em Pato Branco tinham umas festas juninas muito boas?! Eu dançava muito, e também comia bastante.
MÁRCIA: Por isso que tá essa bola né?
BOZENA: Eu? Tá se vendo no espelho não, dona Márcia?
MÁRCIA: Mais respeito, hein, Bozena. Sou eu quem pago seu salário.
BOZENA: Aff! Já que acabei aqui, vou dar uma passada na casa da dona Sarah pra ver se ela quer algo de mim.
MÁRCIA: Vá em paz!
Bozena sai.
MÁRCIA: (consigo mesma) Pensando bem, Festa Julina é uma boa pra eu ganhar uma graninha a mais e ainda mantenho essa gentalha ocupada arrumando as coisas enquanto tenho uns papos com Lorraine.
Márcia pega seu celular e digita um email.

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CENA 3: APARTAMENTO 301, EDIFÍCIO SANTA FÁTIMA. NOITE. INT.
Hortênsia sozinha no apartamento, sentada no chão ao lado de uma garrafa de Vodka.
HORTÊNSIA: Ai, vou pegar mais, cansei dessa Vodka.
Hortênsia se levanta, bêbada. Bozena entra.
BOZENA: O que foi, dona Hortênsia? Algum problema?
HORTÊNSIA: Não, nenhum. É só vodka meio misturada com outras coisas, Bozena.
BOZENA: Dona Hortênsia, o seu Lúcio não chegou ainda não?
HORTÊNSIA: Não, hoje é plantão noturno dele, minha filha. Essa semana toda ele vai ficar fora de noite. Esqueceu? (ri alto)
BOZENA: Verdade. Você quer alguma coisa de mim, dona Hortênsia?
HORTÊNSIA: Não. Já até cansei dessa Vodka.
BOZENA: Então, acho que vou curtir a festa julina que tá rolando aqui perto.
HORTÊNSIA: Onde?
BOZENA: Naquele bar.
HORTÊNSIA: Aquele do forró das sextas feiras?
BOZENA: Esse mesmo.
HORTÊNSIA: Ah, bem que eu queria ir, mas Lúcio pode ficar sabendo.
BOZENA: Se mamãe não vai à montanha, a montanha vai à mamãe.
HORTÊNSIA: É Maomé!
BOZENA: Ah, é. Sabia, dona Hortênsia, que uma vez, na minha época de escola, lá em Pato Branco, eu me vesti de Maomé? Até abri o Mar Vermelho.
HORTÊNSIA: Bozena, volta pra aula de Catequese, porque quem abriu o Mar Vermelho foi Moisés.
BOZENA: Enfim, dona Hortênsia, se a senhora não pode ir lá, a festa vem aqui.
HORTÊNSIA: Você tá propondo uma festa aqui, Bozena?
BOZENA: Sim!
Bozena pega a garrafa de Vodka e bebe um pouco.
BOZENA: Vou lá chamar aquela galera do bar! Dona Hortênsia, chama o pessoal aqui do prédio, menos a Márcia meio metro.
HORTÊNSIA: Claro! Toma essa grana e compra umas comidas. (entrega algumas notas de dinheiro para Bozena) Vê se o tiozinho do churros e da pipoca topa vir. Ele vive me cantando, pode falar que a festa é minha.
BOZENA: Tudo bem. Ah, sabia, dona Márcia, que lá em Pato Branco o vendedor de churros e pipoca foi preso uma vez. Ele pegava churros e tacava nas pessoas quando tava bêbado.
HORTÊNSIA: Ele foi preso por jogar churros nos outros?
BOZENA: Não, foi porque ele matou a própria mãe.
HORTÊNSIA: Usando churros?
BOZENA: Não, uma faca normal.
HORTÊNSIA: Ah, Bozena, vai lá fazer o que te disse!
Bozena e Hortênsia saem.
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CENA 4: APARTAMENTO 202, EDIFÍCIO SANTA FÁTIMA. NOITE. INT.
Dirce na cozinha, preparando algo no fogão, Nelsinho na sala mexendo em seu celular e Genival está deitado no sofá, sem fazer nada.
GENIVAL: E aí, Nelsinho, como foi seu showzinho ontem lá no Cavalão?
NELSINHO: Bom demais. As garotas de lá tão apaixonadas por mim. O que faço pra elas desgrudarem do meu pé?
GENIVAL: Primeiro, dá um óculos pra elas, depois, fala pra elas virem conversar comigo e eu falar os seus defeitos.
DIRCE: Deixa seu irmão quieto, Genival.
GENIVAL: Ele que perguntou ué.
A campainha toca.
GENIVAL: Deixa que eu atendo.
Genival abre a porta. É Hortênsia, ainda bêbada.
HORTÊNSIA: (voz embolada) Oi. Bora pro Arraiá da Hortênsia? Não gosto de vocês, favelados, mas podem ir, só porque eu tô boazinha hoje.
DIRCE: Ih, a velha bêbada...
HORTÊNSIA: Ô Dirce, leva essa comida aí tua.
DIRCE: É moela. Você vive reclamando do cheiro das minhas comidas.
HORTÊNSIA: Mas hoje tá bom. Pode levar. A bebida é por minha conta. Vai ter cerveja!
DIRCE: Ah, que bom!
HORTÊNSIA: Ô funkeiro, leva umas músicas também.
NELSINHO: Pode deixar. Vou agitar essa festinha.
HORTÊNSIA: Ah, Dirce, vai ter uns bofes também. Sei que você adora. Sei muito bem que você guarda revista de homem pelado em baixo da cama.
DIRCE: Que isso?! Quem te falou, Hortênsia?
NELSINHO: É verdade isso, mãe?
DIRCE: Claro que não.
HORTÊNSIA: De qualquer forma, os bofes estarão lá, Dirce.
GENIVAL: Dona Hortênsia, tu caiu do céu né? Uma festinha nessa noite desanimada é tudo de bom.
HORTÊNSIA: Tá me achando de anjo, querido?
DIRCE: Eu diria bruxa, que caiu porque é tão pesada que a vassoura quebrou.
HORTÊNSIA: (rindo alto) Ah, pobres e suas piadas...
NELSINHO: Pô, dona Hortênsia, tô com uma música nova, de minha criação, só que não tá pronta. Posso levar pra cantar?
HORTÊNSIA: Pode. Quero muito som na minha festa.
GENIVAL: Vai ser quando e onde?
HORTÊNSIA: Agora, querido, lá em casa. Ah, e você, não precisa levar nada, nem suas roupas. (ri alto)
Todos riem. Hortênsia para de rir.
HORTÊNSIA: (séria) É sério, tá? (ri novamente) Espero vocês lá!
Hortênsia sai. Genival fecha a porta. Todos riem novamente.
DIRCE: Ah, essa mulher quando tá bêbada fica mais louca ainda.
GENIVAL: Melhor assim do que chata reclamando de tudo como o normal.
NELSINHO: Bora mãe?
DIRCE: Bora o que?
NELSINHO: Ir nessa festa aí da coroa.
DIRCE: Claro que vamos. Não posso perder uma festa com boca livre, praticamente.
GENIVAL: Nem eu. Será que a dona Vivy vai?
DIRCE: Ah, meu filho, para de falar dessa mulher. Ela é compromissada com aquele gatão.
NELSINHO: Dona Dirce, dona Dirce...
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CENA 5: APARTAMENTO 102, EDIFÍCIO SANTA FÁTIMA. NOITE. INT.
Sarah na sala de seu apartamento, junto com Flávio, que está sentado no sofá. Pedro faz sua tarefa de casa na mesa da sala de jantar. A campainha toca.
SARAH: Filho, abre lá, por favor!
PEDRO: Tá bom mãe.
Pedro levanta-se e abre a porta. É Hortênsia.
HORTÊNSIA: Oi, amor. Cadê tua mãe?
Sarah levanta-se da cadeira e vai à porta, Flávio sai correndo para o quarto.
SARAH: Oi, Hortênsia. Como vai?
HORTÊNSIA: (embriagada) Bem, né? (ri alto) Vou fazer uma festa agora lá em casa. Quer aparecer lá?
SARAH: Festa pra comemorar o que?
HORTÊNSIA: Nada não, Sarah. É que estamos no fim de julho e eu queria ir a uma festa julina, já que a Márcia esse ano resolveu não fazer.
SARAH: Ela enviou um email para nós, condôminos, agora pouco avisando da reunião de amanhã sobre a festa julina.
HORTÊNSIA: Ah, essa anã vai querer é sugar dinheiro dos nossos bolsos. Hoje é boca livre. Pode ir.
PEDRO: Eu posso ir?
HORTÊNSIA: Pode. Tem umas garotas lá do bar daqui da frente que estão vindo pra minha festa.
PEDRO: Eu vou brincar com elas?
HORTÊNSIA: Eita. Safadinho você, hein, Pedro! Não acha que é muito novo não?
PEDRO: Ah?
SARAH: Nada não, filho. Entre.
Pedro volta para a sala de jantar.
SARAH: Obrigada pelo convite, mas estamos ocupados, Hortênsia.
HORTÊNSIA: Ah, que gente desanimada! Até mais, Sarinha.
SARAH: Até!
Sarah fecha a porta. Hortênsia sai.
SARAH: Filho, cadê seu pai?
PEDRO: Ele foi lá pro quarto.
SARAH: Flávio, tá tudo bem?
Sarah vai ao quarto do casal.

NO QUARTO...
Sarah entra. Flávio está deitado na cama.
SARAH: Flávio, você tá bem?
FLÁVIO: Tô meio enjoado, Sarah.
SARAH: Ah, amor. Será que foi alguma coisa que você comeu?
FLÁVIO: Pode ter sido a coxinha que comi ontem no aeroporto.
SARAH: Deve ter sido. Você vomitou, amor?
FLÁVIO: Não.
SARAH: Você quer ir pro hospital?
FLÁVIO: Não precisa. Você quer ir pra festa da Hortênsia? Vi que ficou animada.
SARAH: Ah, mas você não vai, amor.
FLÁVIO: Pode ir, Sarah. Não dependa de mim.
SARAH: Tudo bem. Vou me arrumar então. Pedro vai ficar aqui.
FLÁVIO: Tá bem. (beija Sarah)
Sarah sai do quarto.
Corta para:

CENA 6: APARTAMENTO 510, EDIFÍCIO SANTA FÁTIMA. NOITE. INT.
Neide está mexendo em seu tablet. Guta e Léo estão brincam em um jogo de dança na televisão. Larissa lê um livro.
GUTA: Mãe, vem dançar com a gente!
LARISSA: Estou ocupada, filha.
LÉO: Deixa esse livro chato aí e vem, mãe.
LARISSA: Não, filho. ‘‘Dom Casmurro’’ é um ótimo livro, caso queira saber.
NEIDE: Cruzes! Livro chato pra burro.
LARISSA: Já leu, mamãe?
NEIDE: Tentei. Atualmente prefiro conversar pelo World Chat com uns velhos ricos do mundo todo.
LARISSA: A senhora tá conversando com gente desconhecida, mamãe?
NEIDE: Sim, minha filha. Não foi você que disse para eu fazer novas amizades? Então...
LARISSA: Mas não com pessoas estranhas.
NEIDE: Eles não são estranhos. Eu coloco pra filtrar somente velhos ricos. Aí vou vendo um que pode me tirar dessa terra detestável e me levar pra mansão dele.
LARISSA: Mamãe, a senhora está ficando louca.
NEIDE: Louca é você, minha filha, que se casou com um homem de classe média que viaja pra caramba e a merreca que ganha só dá pra pagar as necessidades básicas.
LARISSA: Pelo menos ele trabalha né, mamãe?! Já a senhora...
NEIDE: Já lhe falei, minha filha, que não posso trabalhar por recomendação médica.
LARISSA: E eu acredito nisso.
A campainha toca. Neide levanta-se e abre a porta. É Hortênsia.
NEIDE: Hortênsia? O que você tá fazendo aqui?
HORTÊNSIA: Vim chamar ocês pro Arraiá da Neide! Vai ser um arraiá bom de mais da conta!
NEIDE: Tá falando que nem caipira por quê?
HORTÊNSIA: Pra entrar já no clima. Bora, Neide?
NEIDE: Vai ser aonde?
HORTÊNSIA: Lá na minha humilde residência.
NEIDE: Agora?
HORTÊNSIA: Sim. Bozena foi chamar uns bofes daquele barzinho aqui em frente.
NEIDE: Ui. Mas será que tem algum ricaço?
HORTÊNSIA: Talvez. Chama Larissa também.
NEIDE: Aquela ali agora só fica lendo livro de corno. O da vez é ‘‘Dom cai no muro’’.
HORTÊNSIA: (rindo alto) Então até daqui a pouco, Neide.
NEIDE: Até!
Hortênsia sai e Neide fecha a porta.
LARISSA: Quem era, mamãe?
NEIDE: Hortênsia.
LARISSA: O que essa velha bêbada tava querendo?
NEIDE: Me convidou pra um chá da noite com ela mais tarde.
LARISSA: Ah, chá, sei...
NEIDE: Vou me arrumar.
Neide vai ao seu quarto.
Corta para:

CENA 7: APARTAMENTO 1003, EDIFÍCIO SANTA FÁTIMA. NOITE. INT.
Márcia está sentada no sofá de sua casa, fazendo uma ligação telefônica.
Intercala com:

CENA 8: ESCRITÓRIO DA ‘‘MUNDO DAS FESTAS’’, ICARAÍ. NOITE. INT.
Aluísio (aproximadamente 35 anos, barbudo, cabelo longo e escuro, com roupa social) está sentado na cadeira de sua sala.
MÁRCIA: Olá, Aluísio?
ALUÍSIO: Sim. Quem é?
MÁRCIA: Oi, querido. Eu, Márcia Cordeiro, do Edifício Santa Fátima.
ALUÍSIO: Ah, o Meia Estrela.
MÁRCIA: Sim. Então, queria saber se você ainda faz festas julinas.
ALUÍSIO: Faço, mesmo estando já no fim de julho. Quando seria?
MÁRCIA: Depois de amanhã.
ALUÍSIO: Tudo bem. Posso sim. Sorte sua que eu atendi ao telefone porque não costumo estar aqui essa hora, mas como montaremos uma festa de 15 anos, vim pegar alguns papéis aqui.
MÁRCIA: Então, por quanto fica a festa?
ALUÍSIO: Pera, Márcia, você ainda não falou quantas pessoas são, quanto tempo de festa, o que você quer na festa,...
MÁRCIA: Você pode vir aqui amanhã pra uma reunião de manhã?
ALUÍSIO: Mas você ainda não decidiu nada com os moradores?
MÁRCIA: Mais ou menos. Então amanhã você pode aparecer aqui 9 da manhã?
ALUÍSIO: Posso sim.
MÁRCIA: Até amanhã então.
ALUÍSIO: Até.
Aluísio desliga.
Corta para:

CENA 9: APARTAMENTO 706, EDIFÍCIO SANTA FÁTIMA. NOITE. INT.
Vivy e Patrick estão no quarto deles, deitados na cama.
VIVY: Ah, Patrick, sabe que me deu uma vontade de comer churros agora?!
PATRICK: Ah, será que você tá grávida, Vivy?
VIVY: Cruzes. Não quero ficar gorda pra sair uma criança das minhas pernas não.
PATRICK: Poxa, Vivy. Sempre quis ter meus molequinhos.
VIVY: Depois a gente pensa nisso melhor, Patrick.
A campainha toca. Vivy levanta-se, Patrick vai junto. Vivy abre a porta. É Hortênsia.
HORTÊNSIA: Oi, lindos.
PATRICK: Oi. O que tá rolando?
HORTÊNSIA: Vou dar uma festa agora lá no meu apartamento, 301. Querem ir?
VIVY: Festa de quem? Sua?
HORTÊNSIA: Festa julina. Já que a Márcia não quis fazer a do prédio, fui fazer eu mesma.
PATRICK: O que vai ter de bom nessa festa?
HORTÊNSIA: (embriagada) Vai ter música. Oba! (dançando até o chão) Cerveja, vodka, uísque,... Comida também!
VIVY: Vai ter churros?
HORTÊNSIA: Acho que sim. Mandei Bozena chamar o tiozinho do churros.
VIVY: Ah, vamos sim, então.
HORTÊNSIA: Tá. Já vai começar. Até mais.
Hortênsia sai. Vivy fecha a porta. Vivy e Patrick voltam para o quarto.
Corta para:

CENA 10: APARTAMENTO 301, EDIFÍCIO SANTA FÁTIMA. NOITE. INT.
Bozena entra no apartamento. Entram também vários homens e mulheres. As mulheres vestem roupas curtas e decotadas, já os homens estão com blusas coladas no corpo. Eles carregam sacolas de supermercado, comidas e bebidas. Entra também Seu Edmilson (aproximadamente 65 anos, pipoqueiro e vendedor de churros, pouca barba, cabelo grisalho), com sua carrocinha de churros e pipoca.
BOZENA: Seu Edmilson, pode colocar a carrocinha ali. (apontando para a cozinha)
EDMILSON: Tá bão, Bozena. Cadê Hortênsia, aquela gatona?
BOZENA: Já deve estar voltando. Lá em Pato Branco, eu tive uma patroa muito parecida com a dona Hortênsia. Ela era dançarina de funk.
EDMILSON: E o que ela tem a ver com a Hortênsia?
BOZENA: Só o nome mesmo.
EDMILSON: Ah tá.
Edmilson coloca a sua carrocinha ao lado da geladeira da cozinha. Os homens e mulheres arrastam os móveis e preparam a pista de dança. Hortênsia entra.
HORTÊNSIA: Cheguei!
BOZENA: Dona Hortênsia, já tá tudo quase pronto. Posso ir me arrumar?
HORTÊNSIA: Vai!
Hortênsia e Bozena saem da sala.

DEZ MINUTOS DEPOIS...

SONOPLASTIA: Baião – Luiz Gonzaga
Hortênsia e Bozena voltam para a sala. Hortênsia usa um vestido caipira rosa, já Bozena veste uma saia florida e uma blusa branca, além de ter uma flor amarela no cabelo. A sala do apartamento já está toda arrumada. Os convidados de Bozena já começam a dançar.
HORTÊNSIA: Bora agitar essa festa!
Dirce, Genival, Nelsinho, Vivy, Patrick, Sarah e Neide chegam aos poucos.
HORTÊNSIA: Bem vindos todos! Vamos fazer dessa festa um momento inesquecível! Márcia só vai entrar se pagar pra gente tudo que tá devendo
DIRCE: Isso mesmo!
NEIDE: Oba! Me dá uma cerveja aí, Bozena!
Bozena distribui as bebidas. Dirce, Genival, Nelsinho e Neide pegam cerveja, Patrick e Vivy pegam uísque e Sarah bebe um refrigerante.
Sonoplastia cessa.
HORTÊNSIA: Nelsinho, quer cantar logo sua música nova?
NELSINHO: Daqui a pouco. Vamos começar com outra música!
SONOPLASTIA: Aquele 1% – Marcos e Belutti
Todos dançam. Hortênsia segura uma garrafa de vodka e dança até o chão. Edmilson aproxima-se de Hortênsia.
EDMILSON: Dança comigo, gatona?
HORTÊNSIA: Só se for agora.
Edmilson e Hortênsia dançam juntos. Neide agarra um rapaz jovem e moreno.
NEIDE: E aí, gatão?
RAPAZ: E aí, coroa? Quer dançar?
NEIDE: Claro.
Neide começa a dançar com o rapaz. Edmilson tenta colocar a mão no quadril de Hortênsia, mas ela a tira. Bozena dança com um rapaz alto e forte.
Sonoplastia cessa.
Corta para:

CENA 11: APARTAMENTO 1003, EDIFÍCIO SANTA FÁTIMA. NOITE. INT.
Márcia está sentada no sofá de seu apartamento.
MÁRCIA: Que música alta é essa? Quem será que resolveu fazer festa uma hora dessas? Aff! Que saco!
Márcia desliga a luz da sala e sai do apartamento.
Corta para:

CENA 12: APARTAMENTO 301, EDIFÍCIO SANTA FÁTIMA. NOITE. INT.
SONOPLASTIA: Vai começar a ousadia – MC Gui
Todos continuam dançando até o chão.
HORTÊNSIA: Nelsinho, tá na hora do seu show!
Hortênsia desliga o som.
Sonoplastia cessa.
NELSINHO: Beleza. Então, pessoal, vou apresentar agora a minha nova música: Manda nudes. Preparados?
DIRCE: (gritando) Sim!
NELSINHO: (cantando) Gatinha
Lindinha
Cadê sua fotinha?
Cadê sua fotinha?

Ei
Manda nudes
Ei
Manda nudes
Ei
Manda nudes

Manda só unzinho
É pro Nelsinho
Ele é bonitinho
E gostosinho
Vai te pegar com jeitinho

Manda, manda nudes
Manda, manda nudes
Só unzinho
É pro Nelsinho
DIRCE: (gritando) Uhul! Lindo!
Todos aplaudem. Márcia entra no apartamento, aplaudindo alto.
MÁRCIA: Posso saber que palhaçada é essa aqui?
HORTÊNSIA: Palhaçada é você entrar no apartamento dos outros sem pedir.
DIRCE: Isso é invasão de domicílio.
HORTÊNSIA: É crime isso! Vá procurar um Tarzan pra você, Chita de samambaia!
SARAH: Ô Márcia, vá trabalhar no seu consultório de dentista da Barbie.
HORTÊNSIA: Você só vai participar da minha festa se pagar pra gente tudo que tá devendo.
NEIDE: Verdade. E ninguém vai nessa festinha mequetrefe daqui do condomínio pra você desviar cada vez mais dinheiro pro seu bolso.
MÁRCIA: Nunca fiz isso. É tudo mentira!
DIRCE: A única mentirosa aqui é você, boneca de bolo de casamento.
VIVY: Sai daqui, Márcia. A gente quer continuar com a festa.
HORTÊNSIA: Pega a vassoura, Bozena.
MÁRCIA: Não ouse fazer isso, Bozena!
BOZENA: Hoje a dona Hortênsia é minha patroa, dona Márcia. Ela tá pagando.
DIRCE: (gritando) Fora, Márcia!
PATRICK: Cai fora, Márcia!
Bozena pega uma vassoura e dá para Hortênsia. Hortênsia ameaça bater em Márcia com a vassoura e ela sai correndo.
MÁRCIA: Vai ter troco isso, bando de safado!
HORTÊNSIA: Vaza do meu apartamento!
Márcia sai do apartamento de Hortênsia. Hortênsia retorna.
HORTÊNSIA: Bora continuar essa festa, gente! Solta o som, Nelsinho.
NELSINHO: Pode deixar. Vamos agora com uma música das antigas.
SONOPLASTIA: The Rhythm of the night – Corona
Todos voltam a dançar.
Corta para:

CENA 13: APARTAMENTO 1003, EDIFÍCIO SANTA FÁTIMA. NOITE. INT.
Sonoplastia cessa.
Márcia volta ao seu apartamento.
MÁRCIA: (para si mesma) Ah, safados. Agora ninguém mais vai querer a festinha que eu ia fazer. Já sei! Vou ligar pro Lúcio. Ele não vai ficar nada contente em saber que a louca da mãe dele tá dando uma festa. E se ele não fizer nada, chamo a polícia mesmo.
Márcia pega seu celular e liga para Lúcio.
MÁRCIA (TEL.): Oi. Lúcio?
LÚCIO (TEL./OFF): Márcia?
MÁRCIA (TEL.): Olá, Lúcio. Eu mesma. Desculpe te incomodar em seu plantão noturno mas é que a sua mãe tá dando uma festa aqui no prédio. Já pedi para ela acabar com a festa, porque o som está altíssimo e ela permitiu a entrada de umas vinte pessoas. O apartamento está cheio. Tem gente até no corredor. Tá um horror isso aqui!
LÚCIO (TEL./OFF): Ela tá bêbada, Márcia?
MÁRCIA (TEL.): Bastante. Tá agarrando vários rapazes.
LÚCIO (TEL./OFF): Ai, meu pai do céu. Desculpa o incômodo, Márcia. Eu vou ligar pra Bozena. Até mais.
MÁRCIA (TEL.): Até mais, querido. Caso não resolva, eu ligo pra polícia.
Márcia desliga o telefone.
Corta para:

CENA 14: APARTAMENTO 301, EDIFÍCIO SANTA FÁTIMA. NOITE. INT.
Bozena está dançando com um rapaz. O telefone dela toca. Ela atende.
BOZENA (TEL.): Alô. Seu Lúcio?
LÚCIO (TEL./OFF): Bozena, manda mamãe acabar com essa festa em vinte minutos. Coloquem todo mundo pra fora já! A Márcia vai ligar pra polícia.
BOZENA (TEL.): Ih, polícia? Ferrou!
LÚCIO (TEL./OFF): Isso mesmo. Então coloquem todos pra fora.
Bozena desliga o telefone.
BOZENA: Pessoal, a festa terminou! A anã de jardim vai ligar pra polícia. Vamos fazer a festa lá no calçadão da praia, aí ela não vai nos incomodar.
TODOS: Bora!
Todos saem do apartamento de Hortênsia, inclusive ela.
Corta para:

CENA 15: APARTAMENTO 1003, EDIFÍCIO SANTA FÁTIMA. NOITE. INT.
Márcia está sozinha em seu apartamento, próxima à janela. Ela observa Hortênsia e os outros convidados da festa. Eles estão na praia de Icaraí, cantando e dançando.
MÁRCIA: Ai, essa velha bêbada hoje tá bem animada.
Márcia sai da janela e volta para sua cama.

FIM DO EPISÓDIO

Escrito por:
Vitor Abou

Participações Especiais:
Bruno Ferrari como Aluísio

José Dumont como Edmilson

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