quinta-feira, 25 de agosto de 2016

Episódio 6: Meia Estrela

EPISÓDIO 6: CABUM!

                    
CENA 1: STOCK SHOTS. NOITE. EXT. BOA VIAGEM / ICARAÍ, NITERÓI.
Já é noite. O calçadão está iluminado, com várias pessoas transitando. A CAM percorre o trajeto de Boa Viagem, passando pelo Museu de Arte Contemporânea de Niterói, até Icaraí, que também tem várias pessoas na praia.
SONOPLASTIA: The Rhythm of the night – Corona
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CENA 2: PORTARIA DO EDIFÍCIO SANTA FÁTIMA. NOITE. INT.
Márcia e Bozena estão em pé. Márcia segura uma faixa. ZOOM na faixa, que tem escrito ‘‘Welcome to Half Star’’.
Sonoplastia cessa.
BOZENA: Dona Márcia, ainda não entendi o que a gente tá fazendo aqui.
MÁRCIA: Rodando bolsinha que não é, Bozena.
BOZENA: Não sou de fazer isso não, dona Márcia. Sou do Senhor.
MÁRCIA: Que senhor? Qual é o nome dele? Por que o seu Senhor com certeza não é o mesmo que o meu, porque depois do que vi na festa da Hortênsia há uns dias...
BOZENA: Quem é que vai chegar hoje?
MÁRCIA: Aquele cara do Irã.
BOZENA: Ah, dona Márcia. Me segura quando ele chegar.
MÁRCIA: Por que, Bozena? Não vá agarrar o rapaz!
BOZENA: Dona Márcia, ele deve ser terrorista. Qual o nome dele? Mouhamed?
MÁRCIA: Não. Na verdade, nem lembro. Vou ver aqui no meu celular.
Márcia pega seu celular e vê algo nele rapidamente.
MÁRCIA: (apreensiva) Ih!
BOZENA: O que foi, dona Márcia?
MÁRCIA: O nome do cara é Osama.
BOZENA: Osama Bilau?
MÁRCIA: É Bin Laden, jumenta!
BOZENA: Cavala!
Ouve-se um som de buzina. Um homem (alto, aproximadamente 36 anos, cabelo curto e preto, barba um pouco grisalha, vestido com roupa social e gravata) entra na portaria, carregando duas malas.
BOZENA: Oi. Você que é o Bilau?
MÁRCIA: Bozena, fica quieta!
OSAMA: Olá. Acho que você deve ter se confundido. Eu sou o Osama.
BOZENA: Dona Márcia, já sabe: se ele explodir, nós vamos morrer juntas, então não me deixe sozinha com ele.
OSAMA: Não sou homem bomba não. Qual seu nome?
BOZENA: Bozena.
Osama estende sua mão. Bozena não o cumprimenta. Márcia pisa no pé de Bozena.
BOZENA: Ai, dona Márcia!
MÁRCIA: Tenha mais educação, jegue!
BOZENA: Cavala!
Bozena cumprimenta Osama, porém apreensiva.
MÁRCIA: O seu apartamento é o 905, né?
OSAMA: Sim, do doutor Jacques. Ele está?
MÁRCIA: Não. Ele não veio, nem mora aqui. Só aluga mesmo, mas me pediu para te receber.
OSAMA: Obrigado. Qual seu nome mesmo?
MÁRCIA: Márcia, a síndica do Santa Fátima.
OSAMA: O taxista me falou outro nome pro prédio. Um tal de Meia Estrela. Ele ia me falar para o lugar errado.
BOZENA: (rindo) Aqui é o Meia Estrela.
OSAMA: Não é Santa Fátima?
MÁRCIA: Sim. É que apelidam de Meia Estrela porque não chega nem a uma estrela, enquanto existem prédios cinco estrelas, quatro estrelas,...
OSAMA: Ah, sim.
MÁRCIA: Vamos subir!
Márcia, Osama e Bozena entram no elevador.
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CENA 3: APARTAMENTO 510, EDIFÍCIO SANTA FÁTIMA. NOITE. INT.
Neide varrendo o apartamento. Larissa entra.
LARISSA: Que isso, mãe? Que milagre!
NEIDE: Estou limpando esse apartamento. Você precisa aprender como limpar direito, não acha, minha filha?
LARISSA: Só se for com a senhora, verdadeiro Empreguete.
NEIDE: Sem gracinhas, filha.
LARISSA: Cadê as crianças?
NEIDE: Estão lá dentro. Ah, minha filha, amanhã começo a trabalhar.
LARISSA: Amanhã? Mas como? Preciso que você fique com as crianças, mãe.
NEIDE: O Flávio volta quando?
LARISSA: Daqui a dois dias. Mas onde você vai trabalhar, mãe? Não me respondeu.
NEIDE: Vou fazer brigadeiros e outros docinhos para vender. Vou começar vendendo aqui no prédio e no bairro e depois vou expandindo.
LARISSA: Gostei de ver, mãe. Então leve as crianças para vender com você, mas nada de explorar os meus filhos.
NEIDE: Claro, minha filha. Não sou louca a esse ponto.
LARISSA: Sei...
Larissa vai em direção ao quarto dos filhos.
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CENA 4: APARTAMENTO 301, EDIFÍCIO SANTA FÁTIMA. NOITE. INT.
Hortênsia deitada no sofá. Na sua mão, um tablet. ZOOM no tablet: imagens de vídeo de Márcia e Osama. Lúcio chega e olha para o tablet.
LÚCIO: O que é isso aí, mãe? (t) Calma! Você colocou câmera no apartamento da Márcia?
HORTÊNSIA: Claro que não, filho.
LÚCIO: Mas essa aí não é ela?
HORTÊNSIA: É sim. Eu coloquei uma micro câmera no uniforme da Bozena porque eu tô desconfiando que ela esteja pegando a minha cachaça.
LÚCIO: Então por que você não botou a câmera aqui no nosso apartamento?
HORTÊNSIA: Porque eu também queria saber se o cara que alugou o 905 é gato, mas já percebi que é horroroso.
LÚCIO: E quando Bozena estiver tomando banho e deixar o uniforme perto dela? Vai ver também, mamãe?
HORTÊNSIA: Cruzes, meu filho. Sou uma mulher direita. Não sou de ficar vendo gente pelada, muito menos Bozena.
LÚCIO: Quem tá aí no vídeo?
HORTÊNSIA: Bozena, Márcia e o cara novo. Essa anã é uma intrometida. Quando a gente se mudou pra cá, nem veio falar com a gente. Com esse cara, levou até cartaz.
LÚCIO: Mas ela nem morava aqui quando nós chegamos.
HORTÊNSIA: Justamente.
LÚCIO: Será que ela vai conseguir trazer esse cara pra cá? Os gringos da semana passada ficaram interessados.
HORTÊNSIA: Márcia é capaz de vender algum de nós em troca de novos moradores, principalmente, se forem ricos e estrangeiros. Minha vontade é de dar mais uns tabefes nela.
LÚCIO: Violência nunca é a solução.
HORTÊNSIA: Ah, não é? Queria ver se essa infeliz ia continuar do mesmo jeito, arrogante com a gente e boazinha com os novos moradores, se a gente tivesse colocado ela dentro de um pneu e tacado fogo.
LÚCIO: Dona Hortênsia/
HORTÊNSIA: Com esse tamanho dela, dava pra gente colocá-la até dentro de um pneu de bicicleta. Só não sei se a arrogância dela ia caber.
LÚCIO: Dona Hortênsia, dona Hortênsia... Toma cuidado com o que fala, ouviu? Discurso de ódio não leva a lugar algum.
HORTÊNSIA: Tá parecendo político atacando aqueles que defendem as coisas iguais a mim: a família tradicional e a moral.
LÚCIO: Chega, mãe. Vou ter que sair.
HORTÊNSIA: Vai aonde?
LÚCIO: Vou ir naquele hospital que eu te disse mais cedo. Me ligaram de lá. Parece que já têm uma resposta sobre meu pedido de emprego.
HORTÊNSIA: Ah, nesse caso, meu filho, boa sorte. Que o espírito Santo esteja com você/
LÚCIO: Amém.
HORTÊNSIA: E que o Coisa Ruim esteja com seus concorrentes.
LÚCIO: Que horrível, mãe. E nada de álcool, ouviu? Não vá aprontar!
HORTÊNSIA: Assim você me ofende. Eu sou uma mulher Santa.
LÚCIO: Então nada de bebida, Santa.
Ele dá um beijo no rosto dela e sai. Ela vai até o armário da cozinha e tira uma garrafa de vodka de lá. Fica analisando, hesitante. Na outra mão segura seu tablet, ainda com imagens de Márcia e Osama.
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CENA 5: APARTAMENTO 706, EDIFÍCIO SANTA FÁTIMA. NOITE. INT.
Vivy na cozinha, comendo um sanduíche; Patrick ao seu lado, bebendo um suco de cor laranja.
PATRICK: Vivy, consegui uma vaga como professor de surfe no projeto do tio Edson.
VIVY: Professor de surfe, Patrick? Desde quando você surfa?
PATRICK: Sempre surfei, desde garoto. Só você que não sabia disso pelo que tá parecendo.
VIVY: Ah, quantos segredos...
PATRICK: Não guardo nenhum segredo. Vou começar amanhã lá na praia de Itacoatiara.
VIVY: Ah, é longe, amor.
PATRICK: Vivy, eu não tenho medo de trabalho não, até porque estamos precisando.
VIVY: Patrick, você sempre fazendo questão de me lembrar da nossa situação.
PATRICK: Faço questão mesmo.
VIVY: Vou dar uma volta na praia.
PATRICK: Essa hora?
VIVY: Não. Tô falando agora, mas só irei semana que vem.
Vivy pega uma chave e sai do apartamento. Patrick deita no sofá.
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CENA 6: APARTAMENTO 202, EDIFÍCIO SANTA FÁTIMA. NOITE. INT.
Dirce está sentada em uma poltrona, mexendo em seu celular. Genival mexe no seu.
DIRCE: Notícias da moça, filho?
GENIVAL: Ela disse que chega em menos de 10 minutos.
DIRCE: Meu filho, tenha respeito com ela, hein. Ela veio aqui pra ficar no seu quarto por causa das Olimpíadas, então nada e safadeza e você vai dormir aqui na sala.
GENIVAL: Aff, mãe.
DIRCE: Se você reclamar muito, eu ponho você pra dormir no corredor do prédio. Para de gracinha. Ela pagou adiantado e uma graninha boa pelo quarto.
GENIVAL: Diferente da tia Eulália, que não pagou e ainda ficou resmungando de tudo e de todos daqui.
DIRCE: Nem tem como eu cobrar da Eulália. Ela já me ajudou bem quando eu fiquei lá em Salvador, e também é uma fofoqueira. Se a gente a recusasse aqui, ela ia falar pra Bahia toda.
GENIVAL: Sinceramente, não ligo pro que ela fala, mas como você liga, mãe, entendo. Enfim, vou na portaria receber a Ingrid então.
DIRCE: Tudo bem. Juízo.
Genival sai do apartamento.
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CENA 7: APARTAMENTO 905, EDIFÍCIO SANTA FÁTIMA. NOITE. INT.
Osama, Bozena e Márcia no apartamento. A CAM passa rapidamente pelo interior completo do ambiente. Ele é grande, com paredes azuis e verdes, vários móveis de madeira maciça e vários espelhos.
MÁRCIA: Então, Osama, acho que já podemos te deixar sozinho.
BOZENA: Sabia, seu Osama, que eu tinha uma amiga com o nome parecido com o seu. O nome dela era Osane. Dizia ela que o pai tinha esquecido o ‘‘r’’ na hora de registrá-la, mas ele colocou esse nome por um motivo especial.
MÁRCIA: Qual, Bozena?
BOZENA: Sei lá. Ele dizia isso. Só recontei.
MÁRCIA: (bufando) Ah, Bozena. Só eu para cair nas suas histórias loucas.
BOZENA: Louca é você, cavala.
OSAMA: Acho que já entendi bem do que vocês falaram sobre o trânsito e tal. Já podem ir.
MÁRCIA: Claro. Você deve estar cansado.
OSAMA: Sim. O voo foi desgastante e ainda tenho que testar meus equipamentos de trabalho. Até amanhã.
Márcia e Bozena caminham em direção à saída. Osama fica parado no mesmo lugar.
BOZENA: Equipamentos de trabalho? Dona Márcia, chama o Esquadrão Antibomba.
MÁRCIA: Tô começando a concordar com vocês. Vamos embora logo.
Márcia e Bozena saem do apartamento. Osama fica parado no mesmo lugar, rindo.
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CENA 8: PORTARIA DO EDIFÍCIO SANTA FÁTIMA. NOITE. INT.
Genival está na portaria. Nelsinho chega.
GENIVAL: Tá fazendo o quê aqui, Nelsinho?
NELSINHO: Mamãe falou que a gatinha do sul tava chegando aí eu vim recebê-la.
GENIVAL: Já estou aqui. Você pode subir de volta.
NELSINHO: Ah, agora que já estou aqui, não vou voltar não, só quando ela chegar.
GENIVAL: Você é muito safado, né?
NELSINHO: Eu? Eu sou um anjo perto de você.
Um homem (alto, negro, forte, cabelo raspado, barba feita, vestido com uma camisa vermelha e uma calça preta) entra na portaria, carregando duas malas grandes.
HOMEM: Olá. Vocês são Genival e Nelsinho?
GENIVAL: Sim. Eu sou o Genival.
NELSINHO: E eu, Nelsinho.
O homem aperta a mãe de Nelsinho e Genival com força. Eles fazem cara de dor.
GENIVAL: Você é o motorista da Ingrid?
HOMEM: Não. Ela não teve como vir, então eu vim no lugar dela. Sou o pai dela.
GENIVAL: Mas ela estava conversando comigo agora pouco.
NELSINHO: Isso não é um golpe, né, meu amigo?
HOMEM: Claro que não. Ela me deu a conta dela nessa rede social aí. Se eu avisasse da mudança, poderiam me rejeitar e eu já paguei. E ela decidiu não vir hoje de manhã.
GENIVAL: (desapontado) Ah, então tá. Qual seu nome?
HOMEM: Marcos Valdir, mas me chame de Marcão.
NELSINHO: Beleza. Mas você é pai da Ingrid, Marcão? É que ela/
MARCÃO: Ela é branca e loira e eu sou negão, né? Então, a mãe dela também é branquinha e loira, e como várias outras, adora um cara como eu, daí não preciso nem mais explicar. (ri)
GENIVAL: Entendi.
NELSINHO: Bora subir!
MARCÃO: Sim.
Genival aperta o botão do elevador. Ele não aparece.
MARCÃO: Ah, vamos de escada mesmo.
NELSINHO: Tá bem. Alguém deve estar prendendo o elevador lá em cima.
MARCÃO: Só levem minhas malas, por favor.
Marcão entrega uma mala a Nelsinho e outra a Genival, que fazem aparência de sofrimento. Os três abrem a porta da escada de emergência e entram.
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CENA 9: APARTAMENTO 301, EDIFÍCIO SANTA FÁTIMA. NOITE. INT.
Hortênsia deitada no sofá, com as pernas pra cima. No chão, próximo ao sofá, está uma garrafa de vodka. Ela segura seu tablet. ZOOM no tablet: imagens de vídeo de Bozena, em seu quarto, com uma roupa colada em seu corpo,
dançando até o chão, sozinha. Hortênsia ri alto, e dá alguns goles de vodka. Hortênsia pega seu celular e disca alguns números.
HORTÊNSIA (tel.): Bozena, Bozena, para de dançar desse jeito e vá lavar um banheiro.
BOZENA (tel./off): Dona Hortênsia? Como tu tá me vendo?
Hortênsia desliga e ri alto novamente, sozinha.
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CENA 10: APARTAMENTO 905, EDIFÍCIO SANTA FÁTIMA. NOITE. INT.
Osama sentado no sofá do apartamento. A sala é grande. O sofá é grande, verde e está posicionado ao lado de várias esculturas. A campainha toca. Osama vai até a porta. Ele abre a porta. É Lorraine D’Urrel, com um vestido longo, roxo, com um batom roxo e um chapéu grande e roxo também. Osama fecha a porta.
LORRAINE: Jorge, querido, como vai? Ops, Osama.
OSAMA: Bem, Lorraine. Essa gente trouxa já começou a cair no seu plano.
LORRAINE: Quem foi te receber?
OSAMA: A síndica meio metro e a empregada.
LORRAINE: Márcia e Bozena. Fica de olho nessa empregada.
OSAMA: Por quê? Ela só fala besteira.
LORRAINE: Mas ela observa tudo e é uma fofoqueira, espalha tudo pros moradores.
OSAMA: Ah, vou ficar de olho. Ninguém te viu não?
LORRAINE: Não, e pelo que sei, as câmeras estão desativadas.
OSAMA: Adorei esse seu plano. Mas por que você quer assustar esse pessoal?
LORRAINE: Eles ficam tentando vários jeitos de impedir a venda do prédio pra mim e eu vou conseguir. Isso foi só pra assustar essa gentalha e rir um pouco.
OSAMA: Mas por que você não falou com a síndica anã?
LORRAINE: Ela também merece tomar uns sustinhos de vez em quando.
Osama ri.
OSAMA: Acho melhor você ir.
LORRAINE: Tá me querendo fora daqui? Tô te pagando pra isso. Lembre-se disso.
OSAMA: Não, não é isso. É que esse pessoal curioso e fofoqueiro daqui a pouco vem aí encher meu saco.
LORRAINE: Verdade. Melhor mesmo eu ir. Não quero ver nenhum desses indigentes por aqui.
OSAMA: Já até trouxe aquele notebook velho e vou colocá-lo pra explodir. Quero que eles pensem que estou explodindo outras coisas. Falei mais cedo pra Márcia e pra empregada que ia testar meus equipamentos.
LORRAINE: Boa. Vou indo.
Lorraine abre a porta e sai do apartamento.
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CENA 11: APARTAMENTO 202, EDIFÍCIO SANTA FÁTIMA. NOITE. INT.
Nelsinho, Genival e Marcão chegam ao apartamento. Nelsinho e Genival carregam as malas de Marcão. Eles estão muito cansados e suados.
DIRCE: Oi. Você é o motorista da Ingrid? Cadê ela?
MARCÃO: Não. Sou o pai dela. Meu nome é Marcão. Ela não pôde vir, de última hora, então eu aproveitei e vim.
DIRCE: Ah, sim. Seja bem vindo. Sou a Dirce, mãe dos dois. Filhos, mostrem pra ele o quarto.
GENIVAL: Vai lá, Nelsinho.
NELSINHO: Vai você, Genival.
DIRCE: Deixem que eu vou. Cuidem da cozinha.
Dirce vai com Marcão ao quarto de Genival. Na cozinha, Genival e Nelsinho ficam decepcionados e rindo.
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CENA 12: APARTAMENTO 102, EDIFÍCIO SANTA FÁTIMA. NOITE. INT.
Sarah está sentada em uma cadeira da sala, pintando suas unhas. Pedro assiste à televisão da sala. Ouve-se um barulho alto, similar a uma explosão.
SARAH: Que barulho é essa, Senhor?
PEDRO: Para que explodiu alguma coisa, mamãe.
SARAH: Vou ligar pra Bozena pra ver se ela tá sabendo de algo. Pode ter sido a louca da Márcia.
Sarah pega seu celular e disca alguns números.
SARAH (tel.): Alô? Bozena?
BOZENA (tel./off): Oi, dona Sarah. O que foi?
SARAH (tel.): Você ouviu esse barulho, Bozena?
BOZENA (tel./off): Sim. Aqui foi bem alto. Acho que é o terrorista do 905.
SARAH (tel.): Terrorista?
BOZENA (tel./off): Tem um cara no 905 que se chama Osama e é todo esquisito. Eu e a dona Márcia achamos que ele é terrorista.
SARAH (tel.): Ah, meu pai. Ok, Bozena. Vá lá ver isso. Depois a gente se fala.
BOZENA (tel./off):  Tá. Tchau, dona Sarah.
Sarah desliga o telefone.
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CENA 13: APARTAMENTO 1003, EDIFÍCIO SANTA FÁTIMA. NOITE. INT.
Márcia anda de um lado para o outro do apartamento. Bozena aparece na sala.
BOZENA: Dona Márcia, acho que foi o tal do Osama.
MÁRCIA: Também acho. Vamos lá, Bozena.
BOZENA: Ah, dona Márcia, não acha melhor chamar o Esquadrão Antibomba não?
MÁRCIA: Não, Bozena. Vamos lá primeiro.
BOZENA: Você quer me ver morta, né, dona Márcia?
MÁRCIA: Hoje não. Já paguei seu salário adiantado desse mês.
BOZENA: Ah, que horrível.
Bozena e Márcia saem do apartamento.
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CENA 14: APARTAMENTO 905, EDIFÍCIO SANTA FÁTIMA. NOITE. INT.
Osama está no quarto, deitado. A campainha toca. Ele vai até a porta e abre. São Bozena e Márcia.
BOZENA: Explodiu alguma coisa aqui?
OSAMA: Foi meu computador.
MÁRCIA: Ah, tá.
BOZENA: Ah, então pelo menos a bomba não foi você.
OSAMA: Como assim? Vocês acham que eu sou homem bomba?
MÁRCIA: Não, não.
BOZENA: Na verdade, sim. Fale a verdade, dona Márcia.
MÁRCIA: Quieta, Bozena. Só eu falo agora. É que achamos que tinha sido uma bomba que tinha explodido.
OSAMA: Ah, não, foi meu computador, mas já está tudo certo.
MÁRCIA: Tudo bem, então. Até amanhã. Boa noite.
OSAMA: Boa noite.
Osama fecha a porta e volta ao quarto, rindo.
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CENA 15:  STOCK SHOTS. DIA. EXT. PRAIA DE ICARAÍ, NITERÓI.
Amanhece. A CAM mostra a praia de Icaraí, cheia de banhistas. O Sol está bastante forte e há várias pessoas andando pelo calçadão.
SONOPLASTIA: Malandro é malandro e Mané é mané – Bezerra da Silva
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CENA 16: APARTAMENTO 202, EDIFÍCIO SANTA FÁTIMA. DIA. INT.
Genival e Nelsinho estão sentados na sala de jantar. Eles tomam café da manhã.
Sonoplastia cessa.
GENIVAL: Ah, não lembrava que esse sofá era tão ruim, Nelsinho.
NELSINHO: (ri) Foi tentar ser espertinho, acabou recebendo o grandão.
GENIVAL: Isso deve ter sido praga sua, que ficou com inveja por causa da Ingrid.
NELSINHO: Será que existe mesmo essa Ingrid ou esse cara inventou o perfil dela só pra quererem aceitá-la?
GENIVAL: Estou acreditando mais na segunda opção.
NELSINHO: Eu também.
Ouve-se a tosse de Marcão, alta.
NELSINHO: E aí, Genival, vamos de praia hoje?
GENIVAL: Claro.
Marcão chega à sala de jantar, vestindo uma blusa do Brasil.
MARCÃO: Hoje é dia de jogo.
GENIVAL: Vai ver o quê, Marcão?
MARCÃO: Tênis de mesa.
NELSINHO: Poxa, que empolgante.
MARCÃO: Tênis de mesa é show.
Nelsinho e Genival prendem o riso.
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CENA 17: APARTAMENTO 510, EDIFÍCIO SANTA FÁTIMA. DIA. INT.
Neide na cozinha do apartamento. Ela mexe uma panela. ZOOM na panela. Aparenta ser um brigadeiro. Guta e Léo entram na cozinha e sentam-se à pequena mesa do ambiente.
GUTA: Vó, quando a gente vai começar a enrolar os brigadeiros?
NEIDE: Estou terminando essa panela aqui. Acho que o outro já está frio.
Neide desliga o fogão e pega um prato que está em cima da geladeira, com brigadeiros ainda não enrolado em esferas. Neide coloca o prato em cima da mesa.
NEIDE: Pronto! Já podem enrolar.
LÉO: Cadê a mamãe, vovó?
NEIDE: Está trabalhando. Já expliquei isso. Hoje vocês vão me ajudar. E como já disse: nada de falar que vocês fizeram grande parte do trabalho.
GUTA: Tá bom, vovó.
Guta e Léo enrolam os brigadeiros, enquanto Neide coloca granulado neles.
LÉO: A gente vai comer isso tudo?
NEIDE: Não. Vamos vender aqui no prédio.
GUTA: E o dinheiro? A gente vai ficar com uma parte também?
NEIDE: No fim do dia, compramos algo bem gostoso com esse dinheiro.
LÉO: Oba!
NEIDE: Vou pegar as forminhas onde colocaremos os brigadeiros.
GUTA: Tá bom, vovó.
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CENA 18: APARTAMENTO 301, EDIFÍCIO SANTA FÁTIMA. DIA. INT.
Hortênsia está sentada no sofá, lendo a Bíblia. Bozena entra no apartamento.
HORTÊNSIA: Oi, Bozena. Achei que tinha morrido. Não aparece há uns dias aqui.
BOZENA: Dona Hortênsia, por que você me ligou ontem? E como tu sabia que eu tava dançando?
HORTÊNSIA: Ah? Do que você tá falando, mulher?
BOZENA: Da hora que tu me ligou e eu tava dançando lá no meu quarto, quase nua.
HORTÊNSIA: Não te liguei, nem te vi assim, graças ao Senhor. Não quero nem imaginar uma coisa dessas.
BOZENA: Melhor que a senhora de biquíni.
HORTÊNSIA: Ih, tá muito abusada, hein, Bozena? Que barulhão foi aquele ontem de noite?
BOZENA: O cara que tá no 905. Dona Hortênsia, ele é muito esquisito. Ele é muçulmano, se chama Osama e ontem aquele barulho de explosão.
HORTÊNSIA: Vou chamar o pastor Mateus para tirar o Coisa Ruim de dentro desse rapaz.
BOZENA: Ah, dona Hortênsia...
HORTÊNSIA: Vá limpar o apartamento, Bozena. Tá uma imundice isso aqui.
BOZENA: Cadê doutor Lúcio?
HORTÊNSIA: Tá dormindo, pra variar. Ontem ele chegou tarde e eu já tava apagada. Aquela vodka devia estar com algum remedinho pra dormir.
BOZENA: Dona Márcia, cadê a vassoura que eu pedi pra senhora comprar? Essa que tem aqui tá toda podre.
HORTÊNSIA: O cara da loja ia deixar na portaria hoje de manhã. Vai lá pegar.
BOZENA: Tá bom. Mas sabia que lá em Pato Branco minha tia Etelvina um dia foi pegar um negócio na portaria do prédio dela e ela pariu o filho.
HORTÊNSIA: Ela pariu na portaria do prédio?
BOZENA: Não, foi no elevador mesmo.
HORTÊNSIA: Aff. Vá lá, Bozena. Ande logo.
Bozena ri e sai do apartamento.
Corta para:

CENA 19: APARTAMENTO 510, EDIFÍCIO SANTA FÁTIMA. DIA. INT.
Neide, Guta e Léo seguram travessas com vários brigadeiros.
NEIDE: Vamos descer, crianças. Vamos lá na portaria primeiro e ficamos lá um tempo. Essa hora deve ter bastante gente passando lá.
GUTA: Uhum, vovó. Vamos lá.
LÉO: Quanto vai ser cada um, vovó? Cinco reais?
NEIDE: Que isso, menino? Estamos vendendo só o brigadeiro, não vocês junto. Um real cada um.
GUTA: Tá bom, vovó. Vamos lá logo, antes que as pessoas não passem mais por lá.
NEIDE: Verdade. Vamos logo.
Guta, Léo e Neide saem do apartamento.
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CENA 20: PORTARIA DO EDIFÍCIO SANTA FÁTIMA. DIA. INT.
Lorraine e Osama estão na portaria, em um canto, perto da escada de emergência. Ela veste um chapéu grande para não ser reconhecida. Bozena chega, pelo elevador e se esconde em outro canto, enquanto tenta descobrir quem está falando com Osama. Logo que percebe quem é, pega seu celular e escreve uma mensagem de texto. ZOOM no celular de Bozena: está escrito ‘‘Desce, dona Hortênsia. Lurreine do Rei tá de papo com o terrorista.’’ Bozena fica escondida por mais um tempo. Neide, Guta e Léo chegam à portaria, carregando seus brigadeiros.
NEIDE: Brigadeiro gostoso. Só por um real!
A CAM aproxima-se de Osama e Lorraine.
LORRAINE: Essa gente vai me reconhecer. Acho melhor eu vazar.
OSAMA: Ok. Toma cuidado.
Osama entrega seu computador queimado a Lorraine e Bozena observa. Lorraine está quase saindo.
BOZENA: Fica aqui, Lurreine.
Lorraine tenta correr, mas Bozena bate nela com a vassoura que está na portaria, de Hortênsia. Márcia chega, vindo da rua e trazendo uma caixa de ovos.
BOZENA: É ovo isso, dona Márcia?
MÁRCIA: Sim. Por quê?
BOZENA: Essa safada chamou esse outro aí pra se fingir de terrorista e assustar a gente. Eu ouvi a conversa deles, dona Márcia.
LORRAINE: É mentira isso. Vai dar ouvidos pra essa empregadinha, Márcia?
BOZENA: Ô, Lurreine do Rei, quieta, que eu não disse pra você falar.
LORRAINE: E desde quando você tem que me dizer quando é a minha hora de falar, tagarela?
Bozena tira a caixa de ovos da mão de Bozena e começa a jogar os ovos em Lorraine e Osama. Hortênsia chega.
HORTÊNSIA: Você de novo aqui, Lorraine. Não tem vergonha na cara não?
Hortênsia bate em Lorraine com a vassoura. Márcia fica parada. Várias pessoas aparecem para ver o que está acontecendo.
NEIDE: Brigadeiro gostoso. Um real.
GUTA: Brigadeiro, brigadeiro!
Neide, Guta e Léo vendem seus brigadeiros para grande parte das pessoas que aparecem para ver a confusão.
BOZENA: Caem fora daqui, seus vigaristas.
Bozena taca mais ovo em Osama e Lorraine e eles saem correndo.
SONOPLASTIA: Bang – Anitta

FIM DO EPISÓDIO

Escrito por:
Vitor Abou

Participações Especiais:
Mouhamed Harfouch como Osama
Paulão Duplex como Marcão


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